sexta-feira, dezembro 15, 2017

(EdH) Catalunha em vésperas de uma eleição decisiva (IV)

Buscar nas discrepâncias geográficas, em relação às adjacentes, uma explicação para o separatismo catalão pode não ser o melhor argumento. Na realidade há países, até menores, cujas diferenças se revelam assaz significativas a distâncias curtas. Ainda assim é forçoso reconhecer que as montanhas da região possuem tonalidades verdes mais próximas da Europa além-Pirinéus do que das características ibéricas. Os parques naturais e as estações de inverno aí implantadas dependem tanto do fluxo turístico interno (entendendo-se Espanha nos ainda atuais limites geográficos!) como externo.
A região também ganhou renome pelo litoral, vendido a partir dos anos sessenta e setenta como destino idílico para europeus endinheirados mas, nos anos mais recentes, esse fulgor esmaeceu e, em número de visitantes, a Andaluzia até a ultrapassou. Trata-se de uma vasta área onde se atinge uma das densidades mais elevadas de população na União Europeia, em contraponto com o interior rural, que se caracteriza exatamente pelo contrário.
Em recursos naturais, a Catalunha revela-se pobre. O solo não lhe lega matérias-primas passíveis de serem exportadas mas, desde o século XIX, a burguesia cuidou de encontrar alternativa num crescimento industrial fundamentado na permanente inovação. A indústria têxtil é tradição com origem na Idade Média, tendo-se adaptado ulteriormente a todas as mudanças suscitadas pelos novos materiais de que é exemplo eloquente o recurso ao algodão dos ameríndios a partir do século XVIII. Em Barcelona, Sabadell e Mataró surgiram fabricantes de vestuário de pronto-a-vestir, que têm perdido dimensão desde o final do século transato como consequência da expansão global. O desemprego operário encontra aqui uma explicação incontornável.
Em compensação, na mira de conseguirem colaboradores bem qualificados, grandes consórcios estrangeiros, nomeadamente japoneses, têm feito de Barcelona o fulcro para a conquista dos mercados europeus.
Números recentes dão a Catalunha como tendo 48% da indústria têxtil espanhola e 80% da produção química havendo, igualmente, muitas fábricas do setor metalúrgico, das construções elétricas e eletromecânicas. Barcelona é, por isso mesmo, o principal polo industrial de toda a Espanha. Singularmente o setor terciário não revela o dinamismo esperado. Mesmo as empresas estrangeiras não costumam trazer para a Catalunha os seus departamentos de investigação e desenvolvimento.
Conclui-se, pois, que pesem embora alguns sucessos a economia catalã assenta num sistema de produção fragilizado e pouco produtivo, sobretudo em comparação com a rival Madrid, que conseguiu atrair a si a maioria dos investidores internacionais. A aposta do movimento independentista decorre da dinâmica europeia, que pode justificar a criação preferencial de sinergias com o outro lado dos Pirinéus em detrimento dos países ou regiões, que ficam do lado de cá.

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