domingo, dezembro 24, 2017

(EdH) «Mont Saint-Michel, o labirinto do arcanjo» de Marc Jampolski (2017)

A silhueta icónica atrai anualmente milhões de visitantes do mundo inteiro. Em finais dos anos noventa também por ali andámos, mas sem os dados históricos e arquitetónicos, que poderiam potenciar-nos as vivencias, tornando-as ainda mais impressivas. De então ficou o registo gravado na memória de um ilhéu de granito, algures entre a Bretanha e a Normandia batido por ventos e marés escolhido em tempos  imemoriais por eremitas para empreenderem o culto a São Miguel.
Os monges beneditinos deram-lhe outra dimensão e ambição em forma de uma poderosa construção românica, depois continuada com as características do gótico. Também fortaleza inexpugnável ou inferno carceral, que Vitor Hugo denunciaria, o Mont Saint Michel conheceu metamorfoses sucessivas, que continuam a dar muito trabalho a quem o estuda.
A mais recente restauração do monumento possibilitou que historiadores, arqueólogos e outros especialistas voltassem a debruçar-se sobre os mistérios deste local único. Graças a escassos documentos  que sobreviveram às vicissitudes da História, mas sobretudo às mais recentes técnicas de modelação e datação, esses cientistas conseguiram fazer as pedras falar de forma a recuperarem o traçado original dos corredores, identificarem os contornos e as funções de edifícios entretanto desaparecidos resolvendo os enigmas arquitetónicos do rochedo.
Acaba por se concluir que o Mont Saint-Michel é um entrelaçamento de projetos e elementos diversos, que não dependeram apenas de um plano.
O excelente documentário de Jampolski desvenda com notável precisão as sucessivas etapas da construção do monumento, relacionando-os com os acontecimentos políticos, históricos ou naturais, que estiveram na origem das suas reconstruções. O resultado é uma vibrante homenagem ao génio dos construtores do passado, que souberam adaptar-se à complexidade do relevo e à magia desse pequeno bocado de terra situado entre o céu e o mar.

Sem comentários: