segunda-feira, dezembro 11, 2017

(EdH) Catalunha em vésperas de uma eleição decisiva (I)

A menos de uma dúzia de dias da eleição, que poderá influir decisivamente no seu futuro, vale a pena abordar o que é hoje a Catalunha e o que, no seu passado, justifica uma tão determinada vontade em se separar do resto da Espanha.
Comecemos pelo nome: porquê Catalunha? A razão tem a ver com o nome dado à antiga província romana, quando os Visigodos a conquistaram e lhe quiseram dar uma nova identidade: Gothalonia. Assim ficou até evoluir por sucessivas corruptelas até á atual designação, que abarca quatro províncias: Gerona, Tarragona, Lleida e a capital, Barcelona.
A superfície abarca 32 mil km2, ou seja quase 1/3 de Portugal, mas apenas 6,3% do território ainda tido como espanhol. Em riqueza é a mais rica região espanhola graças ao crescimento médio anual do PIB em 3,5% nas últimas duas décadas do século XX. Nesse período deixou de ter as fábricas a dominarem a paisagem, ao operar-se uma efetiva revolução nos serviços e no lazer.
A identidade específica de que se reivindica é condicionada pela presença impositiva dos Pirenéus e do Mediterrâneo, constituindo o Ebro o seu limite geográfico. Mas a língua e cultura extravasam essas fronteiras e chegam aos Pirenéus orientais e a sul até Alicante. Ao largo também as ilhas Baleares lhe estão ligadas, falando-se ainda catalão na Andorra, na periferia oriental de Aragão e na própria Sardenha. Mas, mais do que o mar ou a montanha, a planície litoral ou os deltas, foi a História a forjar a identidade catalã.
O seu território sempre foi região de contactos e de trocas entre populações distintas. As grutas e os abrigos testemunham uma ocupação ancestral, datada pelo menos do Paleolítico médio.
Nos alvores da época histórica era habitada por um povo de que ainda se desconhecem as origens - os Iberos - mas muito provavelmente resultante da miscigenação entre populações vindas de África com tribos celtas provenientes do norte da Europa.
No século VI a.C. os navegadores gregos criaram na região alguns dos seus mais distantes entrepostos comerciais. Os romanos ocuparam-na em 218 a.C., levando duas dúzias de anos a pacificá-la para lhe imporem as suas regras civilizacionais.
Os Visigodos chegaram em 531, mas não tardaram as invasões árabes sendo conhecida a data da queda de Barcelona - 717. Os francos reconquistaram-na e, sob a dinastia carolíngia, constituiu uma espécie de lança avançada contra os avanços do islamismo.
Foram vários os condes que a administraram e se foram autonomizando da tutela carolíngia até declararem a independência. Raimundo Berengário III estendeu o seu poder até à Provença a partir de 1113 e o seu primogénito, o IV com o mesmo nome, desposou a filha do rei de Aragão em 1137, criando a união das duas potências de então, mudando o destino da Catalunha. Ela irá desempenhar um papel determinante na Reconquista dos séculos VIII até ao XIII e, ainda mais, na expansão para o Mediterrâneo com a conquista das Baleares em 1229, do reino de Valência em 1238, da Sicília em 1282, da Sardenha entre 1322 e 1324, sem esquecer a Córsega.
No século XIV a Catalunha era uma das maiores potências do Mare Nostrum.

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