quarta-feira, dezembro 06, 2017

(DIM) O Monstro do Dinheiro

A notícia de que Donald Trump acaba de reconhecer Jerusalém como capital de Israel abandonando uma linha de comportamento diplomático até agora respeitado pelas sucessivas Administrações, que o antecederam, apenas confirma como a Casa Branca , o Senado e o Congresso foram tomados de assalto por uma minoria fanática, apostada em puxar a realidade dos milhões de cidadãos para uma perspetiva de extrema-direita com que, na maioria não se identificam. Porque, até mesmo uma boa parte dos eleitores, que garantiram a vitória ao pato-bravo de Queen’s, estão longe de se identificarem com as políticas por ele impostas vendo-se seriamente ameaçados pelos seus efeitos diretos e indiretos.
Um dos motivos de interesse, que nos prenderá a atenção nos próximos anos, será o ricochete das promessas não cumpridas aos milhões de desesperados, que perderam empregos no Midwest e não têm como garantir o sustento da família. Quiseram crer em quem lhes prometia o retorno ao sonho americano e despertam todos os dias para o costumado pesadelo sem fim. Ou aos que acumulam empregos mal pagos e precários, sem conseguirem ganhar o suficiente para conseguirem algo tão próximo quanto possível da ideia de um lar.
O filme de Jodie Foster, estreado seis meses depois da vitória de Trump, tem como um dos protagonistas um pobre diabo, com todas as características de potencial votante naquele poltrão: Kyle Budwell apenas ganhava 15 dólares à hora como estafeta nas ruas de Nova Iorque, valor insuficiente para corresponder às despesas da família, tanto mais que a namorada está grávida de sete meses. Por isso pegou nos sessenta mil dólares recebidos de uma herança e apostou-os todos numa empresa muito elogiada por um apresentador televisivo. Lee Gates - papel desempenhado por George Clooney - é uma espécie de palhaço, que alterna números básicos de music-hall rodeado de coristas com conselhos financeiros. Numa época em que o universo mediático se imbecilizou a noção de ridículo parece definitivamente posta de lado.
Acontece que Kyle ficou na penúria pela fraude empreendida por Walt Camby, o CEO da Isis, empresa de que comprara ações a 75 dólares e as via agora a valerem pouco mais de oito. Por isso consegue entrar no estúdio do programa em direto e ameaçar a vida do apresentador a quem obriga a vestir um colete com explosivos. Daí por diante ocorre uma corrida contra o tempo em que a realizadora Patty Fenn (Julia Roberts) tenta compreender e denunciar o sucedido como forma de salvar a pele de Gates.
Se a narrativa segue quase sempre em consonância com os cânones dos filmes de grande espetáculo, Jodie Foster vai semeando aqui e além alguns pormenores desconcertantes, que nos levam a olhar para a trama como algo mais do que um argumento habilidoso despachado às três pancadas. Que dizer, por exemplo, da cena em que a polícia procura utilizar a namorada de Budwell como elemento dissuasor do seu plano e ela agrava as coisas achincalhando-o em direto para a vasta plateia que, nos vários continentes, acompanha passo a passo o rumo dos acontecimentos. E há eficácia na forma como ela transforma Kyle num personagem simpático a quem o próprio Gates tenta ajudar. Daí que tudo se conjugue para a cena em que Walt Camby é desmascarado na sua trapaça, explicativa da forma como a empresa perdera oitocentos milhões de dólares de um dia para o outro.
Se quisermos ser atentos está aqui explicitada uma revelação elucidativa sobre os atuais contornos do capitalismo desregulado, com os endeusados algoritmos a substituírem-se aos pretéritos e  insondáveis desígnios divinos.
É certo que parecendo muitas vezes encaminhar-se para um grande filme, «Money Monster« nunca consegue desviar-se da mediania. Mas que garante um serão agradável, sem dúvida que sim.

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