terça-feira, dezembro 05, 2017

(EdH) Marie Curie: uma inteligência radiosa

Em 1908, quando já viúva, Marie Curie foi empossada como professora da Sorbonne um jornalista da época comentou: “Na verdade digo-vos que se aproxima a época em que as mulheres tornar-se-ão seres humanos
A frase pode-nos ainda abrir a boca de espanto por quanto comporta de estupidez e de misoginia, mas não foi fácil o percurso de Maria Sklodowska até alcançar o prestígio inerente a ter ganho os Nóbeis da Física e da Química, ter descoberto o rádio e o plutónio e criado aquela que se tornou uma das mais inquietantes palavras do século XX: radioatividade. De facto, ainda na sua Polónia natal, começou a revelar uma singular inteligência ao passar todas as provas escolares com um sucesso inalcançável pelos colegas. Mas os pais terão contribuído para a precocidade com que começou a olhar para tudo á sua volta e encontrar explicação para o que subsistia como obscuro. Władysław Skłodowski  era professor de física e de matemática e a mulher dirigia uma escola de raparigas.
Ao concluir o liceu, Maria e a irmã Bronislawa não conseguiram lugar na universidade de Varsóvia, que só aceitava alunos masculinos. Numa Polónia submetida ao regime dos czares russos o papel social atribuído à mulher restringia-se a casar e a cuidar da família. Daí que as duas irmãs tenham feito um pacto: uma ia estudar para Paris, enquanto a outra asseguraria o seu sustento, depois a que se formasse primeiro pagaria a formação da que começara por se sacrificar. O pacto resultou, e embora Maria tenha sido governanta durante uns anos, quando chegou a Paris estava tão determinada a ser bem sucedida que, ainda como aluna, viu alguns dos professores atribuírem-lhe projetos de investigação.
Será, porém, o encontro com Pierre Curie a lança-la definitivamente num percurso impressionante. Os dois constituíram um típico casal fusional, com ambos a influenciarem-se e a estimularem-se com o objetivo de desvendarem campos até então inimagináveis da matéria.
Porque passaram cento e cinquenta anos sobre o seu nascimento, o Panthéon de Paris tem até março uma exposição sobre a sua personalidade ímpar, de quem Rosa Montero criou uma imprescindível biografia. Para quem queira conhecer a cientista e compreender os muitos desafios que, enquanto mulher, soube vencer, essa é proposta de leitura a ter em conta.

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