segunda-feira, dezembro 18, 2017

(DIM) Uma América intolerante, egoísta e cúpida retratada por Joseph Mankiewicz

«Falsa Acusação» é um dos três filmes de Joseph Mankiewicz, que o canal ARTE nos possibilita rever esta semana. Realizado em 1950 o conteúdo antirracista fez com que fosse proibido nos Estados do sul dos EUA durante muitos anos, merecendo igual ostracismo por parte das televisões.
A história era a de um jovem médico negro sujeito ao ostracismo da população de uma pequena cidade. Esse Luther Brooks era interpretado por Sidney Poitier em início de carreira.
Convocado a casa de dois bandidos, que haviam sido alvejados, não conseguia evitar a morte de um deles. Logo o sobrevivente cuidava de o acusar da morte do cúmplice lançando uma campanha de difamação contra ele, forçado a lutar pela sua inocência.
Ao escolher este tema Mankiewicz desprezava o Código Hays, que exigia a abordagem de temas que enaltecessem a realidade norte-americana. Ora ele denunciava a intolerância e o ódio absurdo da camada mais iletrada da população branca.
Trata-se, pois, de filme muito atual, tendo em conta quanto esse tipo de eleitores contribuiu decisivamente para a eleição de Donald Trump.
Realizado no mesmo ano, «Eva» versa assunto bem diferente: a irresistível ascensão de uma jovem atriz, muito ambiciosa, em detrimento de uma outra já em plano declínio.
Anne Baxter interpretava o papel dessa jovem Eve Harrington, que começamos por ver detentora do prémio de melhor atriz do ano. Como chegou até ali é o que Mankiewicz nos irá mostrar em flash-back: um ano atrás ela assediara Margo Channing (Bette Davis) à porta da saída dos artistas de um teatro para lhe expressar a rendida admiração, vendo-se convidada para a visitar dias depois no camarim. Tão afável se mostrava que Margo convidava-a para ser sua secretária particular.
A influência junto da nova patroa crescia tão rapidamente, que toda a vida desta  passava a depender de si. O objetivo traiçoeiro de toda a sua ação acabava por se explicitar, mas Margo só o compreenderia demasiado tarde.
O que interessava Mankiewicz era descortinar como se abriam as portas do paraíso? Até que ponto justificava a renúncia a qualquer escrúpulo, mormente traindo quem quer que fosse?
O filme não se limitava a ser o retrato de uma arrivista, capaz de tecer todas as intrigas necessárias para alcançar o seu fim, porque mais interessantes se revelavam os padrões de comportamento nos codificados meios teatrais. Acabava por ser um impiedoso estudo de costumes, que confirmava o realizador como um dos mais lúcidos observadores das relações humanas. A perda de valores, o egoísmo e a manipulação consubstanciavam uma perturbadora inversão das expetativas: a caprichosa vedeta via-se transformada em vítima de uma “simpatiquíssima” falsa ingénua.
«Eva» tinha ainda o interesse de vermos Marilyn Monroe numa das suas primeiras aparições na tela.
Vinte anos depois dos dois filmes atrás referidos, Mankiewicz assinava «O Réptil», western quase esquecido, mas dotado de um humor corrosivo. De início tínhamos um assalto bem sucedido com Paris Pitman Jr a conseguir quinhentos mil dólares de um rico proprietário, não tendo de partilhá-los com os três cúmplices, entretanto eliminados.
Escondido o pecúlio numa toca de serpentes voltava para a cidade, mas era reconhecido pelo espoliado, que o denunciava e o fazia prender num estabelecimento situado no deserto do Arizona. Doravante Paris só pensaria em evadir-se e recuperar o seu tesouro.
Traições, vigarices e cupidez, era o tema de um filme, que tem Kirk Douglas e Henry Fonda a liderarem um elenco recheado de bons atores.




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