terça-feira, abril 14, 2020

(NM) A rivalidade entre Miguel Ângelo e Leonardo da Vinci


Uma série de documentários, emitidos pelo canal ARTE há algumas semanas atrás, explorava a ideia de grandes duelos entre grandes nomes da arte ocidental. No que hoje vimos estava em questão a primazia de Miguel Ângelo sobre Leonardo da Vinci, ou vice-versa, a propósito da encomenda por ambos recebida em 1504 para ocuparem duas paredes da Sala Cinquecento do Palácio Vecchi de Florença com enormes frescos sobre as batalhas de Cascina e de Anghiari. Ocorridas nos dois séculos anteriores, elas tinham sido determinantes para que a Cidade-Estado à beira do Arno se tivesse tornado na mais poderosa de quantas cabiam na península italiana.
Leonardo já passara dos cinquenta anos e criara a má fama de deixar inconclusas algumas das encomendas, que lhe faziam. Pelo contrário, ainda não tendo chegado aos trinta anos, Miguel Ângelo já era celebrado como o artista que Roma saudara pela escultura da Pietá.
Os dois artistas antipatizavam um com o outro: Miguel Ângelo porque ansiava ultrapassar o rival no apreço dos aristocratas e do papa, que eram os mecenas por quem poderia alcançar o ambicionado sucesso, Leonardo por suspeitar da sua iminente secundarização por tais clientes, impedindo-o de recuperar a prestigiada condição em que se vira nos anos passados na corte de Milão.
Chegaram-nos até nós os desenhos preparatórios de uma e outra obra, sendo bastante mais impressiva a de Leonardo, mesmo que só conhecida a partir de uma cópia da autoria de Rubens. Os corpos de homens e cavalos enredavam-se no fragor da batalha revelando uma modernidade, que duraria séculos até voltar a ser ensaiada.
Afinal nem um nem outro concluiriam as encomendas, Miguel Ângelo por ter sido chamado a Roma pelo Papa para pintar o teto da Capela Sistina e Leonardo da Vinci dececionado pela falta de comparência do adversário numa disputa, que não lhe estava a correr bem devido ao uso experimental da tinta de óleo, desajustada numa parede preparada para receber outro material que não esse.
No final um especialista reconheceria que se, nos séculos seguintes, Miguel Ângelo fora reconhecido como o maior artista do renascimento italiano, as últimas décadas têm revertido a favor de Leonardo essa condição, graças a tudo quanto dele se sabe enquanto artista total e cientista demasiado avançado para quanto poderia ver traduzido na prática os seus imaginados inventos.

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