terça-feira, abril 28, 2020

(DIM) Os efeitos das agruras infantis


1. Nunca dei grande atenção a Sydney, o meio-irmão de Charlie Chaplin, que tanta importância teve ao apoiá-lo quando estava num orfanato e em fases diversas do percurso cinematográfico embora com destaque especial para o período do contrato com a Mutual. Um documentário de origem francesa revelou o talento por ele demonstrado, quando compartilhou o ecrã com o famoso irmão ou por conta própria. Ou ainda sobre a incapacidade para sentir-se feliz apesar de o vermos, invariavelmente, a rir ou a inventar facécias nos filmes familiares de que se serviram os realizadores do documentário. Para os Chaplin as dificuldades vividas na infância foram suficientemente traumáticas para que delas jamais se libertassem.
Há também o lado sensacionalista dos escândalos em que se viu envolvido, muito embora eles revelassem outro traço não abonatório da sua personalidade: o de se pôr a milhas dos problemas, quando eles prometiam confrontá-lo com dificuldades para cuja resolução não se sentia talhado.
No fundo a melhor descrição dele feita é a de quem lhe elogia o talento de cómico competente sem lhe vislumbrar as qualidades artísticas do irmão, que a isso somou a criatividade para exercitar os seus polivalentes dons.
 2. Se podemos sentir comiseração pelas terríveis agruras vividas pelos manos Chaplin na viragem do século XIX para o XX, ainda mais esse sentimento cresce pelos pobres miúdos da ilha de Sumbawa na Indonésia, que começam a montar cavalos tão só aprendam a dar os primeiros passos, para que os pais os possam utilizar como jóqueis nas corridas de cavalos aí muito apreciadas.
Com cinco ou seis anos chegam a fazer de dez a vinte corridas por dia para possibilitarem as apostas de quem se desloca aos hipódromos com o objetivo de alimentar o vício sem se importar com as fraturas ou mesmo mortes dos miúdos, que constituem o sustentáculo económico das famílias. Por pouco tempo, porque trazendo a idade maior peso tornam-se imprestáveis para aquela prática, vendo-se devolvidos a padrões de miséria maiores do que aquela em que, mesmo assim, vivem.

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