sábado, abril 11, 2020

(DL) Entre Nicolau Gogol e Germano Almeida


1. A Pequena Rússia era o nome por que era conhecida a atual Ucrânia, quando pertencia ao Império Russo e foi na sua pequena vila de Velyki Sorochyntsi, que Nicolau Gogol nasceu em 1809 numa família da pequena aristocracia. Durante a infância interessaram-no as lendas da região, complementadas na adolescência com as infindáveis relatos dos camponeses da propriedade familiar, deles ouvindo as crenças e superstições ou tão-só as dificuldades da dura vida ao serviço de proprietários com muitas características dos antigos senhores feudais.
Conheceu igualmente as igrejas ortodoxas, uma das quais estava associada à lenda de um santo capaz de enganar o diabo e de às suas costas cavalgar, bem como as danças tradicionais, que viria a integrar nalgumas das suas histórias futuras, mormente em Noites na Granja ao pé de Dikanka que foi o seu primeiro livro, publicado originalmente em dois tomos, cada um com quatro contos. Estava-se em 1831 e o jovem Gogol já trocara a região natal pelo cosmopolitismo sofisticado de São Petersburgo, onde a obra mereceria apreciação elogiosa de Puchkin.
Relatados pelo avô do diácono Foma Grigoryevitch, essas histórias decorriam entre os séculos XVII e XIX, ou seja entre o passado dos cossacos e aquele que era o seu presente quando Gogol os quis conhecer profundamente, havendo nelas uma unidade espiritual e histórica, que confere coerência ao conjunto de todas elas.
Embora Gogol fosse um escritor no embrião, já se detetava o gosto pelo macabro como é exemplo o relato da jovem afogada num tranquilo lago. Mais do que uma curiosidade, revela ser uma descoberta interessante.
2. Com O Último Mugido o escritor cabo-verdiano Germano de Almeida deu continuidade ao romance anterior - O Fiel Defunto - onde ficáramos a saber do assassinato de um escritor no dia do lançamento do seu mais recente romance. Incumbida de lhe respeitar a derradeira vontade, a de ser cremado na Praça D. Luís, a viúva enfrenta todos os obstáculos políticos e burocráticos para o conseguir, sobretudo ao compreender quanto tal gesto pode apoiar as reivindicações de uma população abandonada por quem manda.
Sentindo que o tema está longe de estar esgotado o autor confessou-se disposto a uma continuação, agora tomando como perspetiva o testemunho do assassino.

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