domingo, março 03, 2019

(P) «Monólogos de uma Vida» pelo Teatro Regional da Serra do Montemuro


É sempre garantido o prazer de assistir a bom teatro, quando a companhia do Campo Benfeito vem apresentar os seus trabalhos às instalações de O Bando no Vale dos Barris, como está a acontecer neste fim-de-semana.
Desta feita um ator, um bailarino e um músico ofereceram-nos os «Monólogos de uma Vida», sobre um triângulo amoroso entre um homem, a mulher da sua vida e a sua terra natal, tendo por eixos três mitos da nossa civilização ocidental: o de Sísifo, o de Ícaro e o de Perséfone. A história singela é-nos revelada com uma enorme imaginação na forma como os três intervenientes se movem em cena, transformam o cenário alterando sucessivamente a disposição dos seus elementos, cantam com competência, movimentam-se harmoniosamente e misturam com argúcia os valores da vida campesina com as novas tecnologias e as redes sociais.
Não andamos longe dos contadores de histórias que, em tempos, atraíam a atenção com relatos extraordinários do que acontecia a improváveis heróis. O rapaz de cabeça quente é um deles, tornando-se num bem sucedido agricultor após passar por árduos trabalhos e ver desfeitos os sonhos desmedidos. No fim acaba a propor à sua reencontrada deusa a solução de viver metade do ano na cidade, a outra na vila natal.
Ao concluírem-se os vibrantes aplausos finais saímos muito agradados da sala, questionando-nos dos motivos, que levam outros encenadores e atores a brindarem-nos com propostas soturnas, como se desejosos de nos contaminarem com a sua deprimida visão da realidade em que vivemos. O Teatro da Serra do Montemuro demonstra ser possível criar espetáculos inteligentes e que nos estimulem reflexões animosas e pertinentes sobre este momento presente.

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