sexta-feira, março 08, 2019

(DIM) O escândalo das freiras sexualmente molestadas


Michèle-France conta a sua história, prendendo-nos com o olhar, que se fixa na câmara de Marie-Pierre Raimbault e Éric Quintin. Durante vinte cinco anos foi abusada sexualmente por dois padres em comunidades religiosas a que esteve afeta. Ela que se convencera da suprema importância do voto de castidade viu-se subitamente pressionada para abocanhar o sexo de um respeitado padre, fundador de instituições religiosas muito acarinhadas pelos notáveis locais. Dois anos depois, em 1974, mudou-se para um convento, que tinha por Madre Superiora a irmã de tal predador, e que logo a entregaria ao jugo de outro membro da sua fratria, logo apostado em convencê-la da imprescindibilidade de lhe franquear o sexo ou a boca para «facilitar» o mútuo  acesso à «graça mística».
Quando, enfim, encontrou coragem para contar o seu martírio ao antigo responsável da Associação Arche, dedicada a crianças e jovens deficientes, liderada espiritualmente pelo indesejado amante, não imaginava que esse confidente depressa acrescentaria ao seu testemunho o de outras religiosas ou voluntárias da instituição, também elas pressionadas a prestarem idêntica vassalagem sexual a esse Padre Thomas. O custo de tal ato de coragem depressa se manifestou: os responsáveis pela instituição multiplicaram acusações contra quem não se coibia de denunciar as patifarias do seu idolatrado «santo».
As autoridades eclesiásticas agiram do mesmo modo, tudo fazendo para silenciar quem se revelava tão incómoda testemunhas da cultura de predação sexual existente no seu seio.
Durante dois anos, Éric Quintin percorreu quatro continentes para acumular exemplos de violações perpetradas por padres e bispos contra a ingénua submissão das freiras hierarquicamente a si subordinadas. E comprovando o silêncio cúmplice de cardeais e do próprio papa. Sobretudo desse torpe personagem que foi Karol Woytila, tão apressadamente beatificado por Bento XVI, porventura esperançado em que esse manto de santidade ocultasse os vis pecados do antecessor na ocultação de tão gravosos crimes sexuais.
O documentário é eloquente no propósito de desmascarar a hipocrisia da Igreja Católica ao dar rosto e voz a muitas das vítimas de tais predadores. Freiras, que foram repetidamente violadas e, tão só engravidadas, se viram instadas a abortarem - pecado que a Igreja Católica tão veementemente condena! - ou a abandonarem o hábito, sendo devolvidas à sociedade com o trauma da pureza manchada e a falta de meios para sobreviverem. Ou a escravatura sexual a que são sujeitas muitas freiras africanas, postas no mercado pelas Abadessas respetivas, que se comportam como vulgares proxenetas.
Esta investigação em torno das freiras abusadas, somando-se às denúncias de casos de pedofilia nos países tradicionalmente mais permeáveis à doutrina católica, dá acrescida ajuda ao desmascaramento dos seus dogmas. Por estes dias não deve ser fácil a tarefa de evitar o rubor da vergonha a quem se queira apresentar como católico. Pelo menos assim o imagina este ateu empedernido, que se interroga como ainda tanta gente se deixa convencer por tal logro...

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