sexta-feira, março 29, 2019

(DL) David Grann tem novo livro para nos assombrar


Há dez anos passei a acompanhar o percurso literário de David Grann, jornalista de investigação do «New Yorker», em cujas páginas surgem regularmente os seus textos. Na altura entusiasmou-me a extensa abordagem da viagem fatal de Sir Percy Fawcett à Amazónia em 1925 para, com a ajuda do filho e de um amigo deste, encontrar a lendária cidade de Z, mais conhecida como El Dorado. Denotando aturada consulta de toda a documentação disponível sobre o então sucedido, e incluindo uma viagem até à região onde os britânicos haviam sido vistos pela última vez, Grann conseguiu criar uma intriga assaz envolvente, que viria a ser adaptada ao cinema.
Oito anos depois pudemos apreciar a tradução portuguesa do livro por ele dedicado à chacina dos índios Osage: «Assassinos da Lua das Flores». Em 1920 a riqueza multiplicou-se-lhes nos bolsos, porque houve quem encontrasse petróleo dentro da reserva do Oklahoma, que lhes fora atribuída no final do século anterior, quando as chacinas contra os ameríndios tinham culminado em tratados de paz com os sobreviventes. 
Nos anos seguintes os dois mil osages puderam usufruir os benefícios da percentagem dos lucros obtidos com a extração de petróleo, permitindo-lhes a compra de mansões faustosas, de reluzentes cadillacs e os estudos dos filhos em universidades inglesas. Subitamente, porém, começaram a ser assassinados a um ritmo avassalador, nunca se tendo descoberto quem comanditara o morticínio, embora não seja difícil adivinhar quem mais lucrou com o seu total desaparecimento. E nem o FBI, acabado de criar, mostrou grande interesse em encontrar e punir os culpados.
Esta semana David Grann é o nome maior de um Festival de Livros Policiais em Lyon, onde apresenta a tradução francesa do seu livro mais recente: «Le Diable et Sherlock».  Nele reúne doze contos já publicados no «New Yorker», baseados em casos reais, e todos alicerçados no mal, no gosto pelo poder e pelas obsessões doentias. Os lados mais sombrios da condição humana veem-se filtrados pela lógica dos fait divers. E o que subjaz é um retrato da sociedade norte-americana no que tem de mais infame.

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