segunda-feira, março 04, 2019

(DIM) Coitada da Nicole Kidman


Não fosse o sabermos que se trata tudo de uma questão de aparências, só podíamos lamentar a triste sorte de Nicole Kidman de alguns anos a esta parte. No «Retrato de uma Mulher» o John Malkovich tratava-a abaixo de cão. Em «De Olhos Bem Fechados» era introduzida num covil de perversos libertinos pelo próprio marido, Tom Cruise (ainda então na vida real como no filme). Na série «Big Little Lies» era uma mulher aparentemente bem casada, mas que levava tareias do caixão à cova do marido abusador. É caso para dizer que a pobre da senhora parece fadada para papéis desgraçados, como se confirma em «The Railway Man» («Uma Longa Viagem»), agora visto com seis anos de atraso. Aqui ela é uma enfermeira divorciada, que se apaixona por um veterano da 2ª Guerra (Colin Firth), mas sofre as passas do Algarve com as suas crises relacionadas com os traumas sofridos na prisão japonesa algures na Malásia.
Ao contrário de «Feliz Natal Mr. Lawrence», de Nagisa Oshima, em que história semelhante era abordada, o filme de Tiplitzky resulta numa intragável xaropada, mesmo que a coberto da prévia informação de tudo ter a ver com acontecimentos reais. Onde no filme do japonês havia crueldade física e psicológica, que não deixava espaço para facilidades emotivas para o espectador, sobra aqui a pieguice de uma redenção, que põe dois inimigos do passado aos abraços, com a pobre Nicole a servir de passiva e distante observadora.
Ela, a par de Colin Firth, Stellan Skarsgärd e Hiroyuki Sanada, tentam dar alguma verosimilhança à pasmaceira, mas não há ponta por onde se lhe pegue. Não diria tratar-se do pior filme visto este ano, porque tive a desdita de assistir, quase a seguir, a um documentário ainda de pior feitura: «Pesadelo» de Rodney Archer esgota-nos a paciência com oito homens e mulheres, a confessarem-nos os episódios de paralisia durante o sono, complementares a sonhos terríveis com fantasmas, extraterrestres e outros monstros, a que não falta o próprio Diabo ou uma Morte ainda mais macabra do que a da sua réplica xadrezista no filme de Ingmar Bergman.
Visto um e outro, fica o amargo de boca de perder tempo desnecessário com coisas que não mereciam, de facto, tal atenção.

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