segunda-feira, março 25, 2019

(DL) Para que serve um livro, uma peça de teatro ou um filme?


Para que serve um livro, uma peça de teatro ou um filme? Apenas para entreterem ou para nos fazerem pensar, remetendo-nos para abordagens, que nos incitem a uma análise mais profunda dos tempos em que nos movemos? A resposta que defendo é, obviamente, a segunda, muito embora os suspeitos do costume - aqueles que querem que as coisas continuem a ser como são! - tudo façam para que as mentes se alienem, se enferrujem o bastante para que deixem de pensar e só sigam as orientações dos que querem-nos escravos em vez de seres livres.

Numa altura em que a tragédia de Moçambique a todos nos impressiona, José Eduardo Agualusa afirma ao «Público», que “a política é tudo. E o que é a Literatura? Os livros são território de debate. Se um livro não servir para fazer pensar na sociedade em que se vive, serve para quê?”
Na mesma linha de pensamento segue António Pires, o encenador de um notável texto de Bertolt Brecht—«Terror e Miséria do III Reich» - atualmente em cena no Teatro do Bairro e que considera o “teatro enquanto algo que interfere na sociedade e que tem a capacidade de, com frequência, ver coisas onde mais ninguém vê, de espelhar a humanidade e de chamar a atenção para factos sociais.”
Conclua-se com a reiteração da mesma perspetiva por Afonso Cruz, de quem acabei de ler «O Princípio de Karenina»: “todos temos uma espécie de vivência mítica, arquetípica. E as histórias são um pouco o reflexo disso em determinado contexto, em determinada situação, mas o seu sumo e o seu caroço continuam a ser verdade noutras circunstâncias, noutro ambiente, noutro contexto.”
No fundo dediquemo-nos a ver, a ouvir e a ler, nunca nos dando ao luxo de ignorarmos o essencial. O que nos deverá indignar. O que nos incitará a mudar estas nossas circunstâncias, ainda tão distantes das mais que justificadas Utopias.

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