quarta-feira, março 27, 2019

(DIM) «Estou Vivo e Escrevo Sol» de Diana Andringa (1997)


Realizado em 1997, o filme de Diana Andringa é excelente para recordar a personalidade e a obra de António Ramos Rosa, cujos versos solares tanto nos entusiasmaram em anos idos, nomeadamente, nos inícios dos anos 70, quando «O Boi da Paciência» ou «O Funcionário Cansado» exprimiam essa vontade de descomprometimento com o que nos afigurava como desperdício da vida em empregos anestesiantes. Ele próprio explicitava essa opção, porque só conheceu um patrão, de quem desertou num dia em que não lhe apeteceu voltar onde se sentia infeliz. Doravante viveria (mal) de traduções e de explicações.
Na política o poeta ainda menos tergiversava: pelo contrário estava sempre na primeira linha da luta política, mesmo tendo como custo algumas prisões e a contínua vigilância da PIDE. Se no início do período marcelista o regime o quis amansar com o prémio do SNI, ele recusou-o liminarmente, mesmo que o valor financeiro da honraria muito lhe desse jeito aliviar as dificuldades por que passava.
O casamento haveria de lhe alterar o registo poético, levando-o para uma fase em que o jogo formado pelas palavras ganharia ênfase em relação aos conteúdos nelas encerrados. Mas, até ao fim, seria um homem coerente, apostado em dar à poesia o contributo de todo o seu percurso singular.


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