sábado, março 02, 2019

(DIM) «O Último Combate» de Luc Besson


Em 1983 Luc Besson estreou-se na realização de longa-metragens com este filme de ficção científica a preto-e-branco situado em ambiente pós-apocalíptico. Na altura houve algum entusiasmo pelo facto de se apresentarem os sobreviventes da catástrofe como incapazes de verbalizarem palavras, sendo a comunicação reduzida aos gestos mais básicos. Como se, perdido o domínio da linguagem, os homens e as mulheres ficassem condenados à barbárie. Os poucos personagens vivem em guerras entre si, mesmo alguns juntando-se num bando onde um anão é escravizado para ir fornecendo água aos demais a partir de um charco subterrâneo onde só ele chega.
O personagem principal, o Homem, enfrenta-os para lhes roubar uma bateria no cemitério de automóveis, que lhes serve de covil. E deles acaba por fugir num asa delta, cujo motor consegue pôr a funcionar durante a distância suficiente para se afastar. Acaba, porém, por despenhar-se num sítio onde um Bruto consegue dominar no espaço circundante à exceção de uma pequena clínica, onde o respetivo dono conseguiu entrincheirar-se. É por ele que o Homem é cuidado, quando chegou quase morto às suas decrépitas instalações.
Uma amizade cresce entre os dois homens à medida, que a recuperação se concretiza, ambos juntando forças para ripostar contra as sucessivas tentativas de invasão do malfeitor. Há, igualmente, uma preciosidade, que o médico conserva dentro do seu espaço: uma mulher, que vai alimentando no refúgio onde ela se acoita.
Os acontecimentos precipitam-se: uma chuva de objetos sólidos mata o médico e o Homem tem de enfrentar o Bruto, acabando por o matar, mas já depois dele ter alcançado, e assassinado, a mulher ali escondida.
Regressando ao local de partida, o Homem mata o chefe do gangue, de que fugira meses atrás, liberta o anão e fica com a concubina que eles mantinham escravizada. Poderá daí resultar um recomeço da Humanidade?
Luc Besson já prenunciava neste filme, ainda visto como tipicamente de autor, algumas das características que o tornariam num produtor e criador de filmes assumidamente comerciais: muitas cenas de ação, a mulher reduzida a adorno destinado a satisfazer os desejos masculinos (e convenhamos que as últimas semanas têm sido pródigas em denúncias do seu assédio a atrizes e outras colaboradoras, que lhe passassem ao alcance) a prevalência de um individualismo, que secundariza a relevância da solidariedade enquanto valor maior em situações complicadas.
«O Último Combate» vê-se como curiosidade, mas esgota-se nesse mero argumento para que se justifique a sua revisão.

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