terça-feira, março 26, 2019

(DIM) «The Unforgiven» de Lars Feldballe-Petersen (2017)


Pode-se perdoar o que considerámos imperdoável? Será que a idade torna mais humano quem, na juventude, se revelou horrível torturador e assassino? No final deste documentário as respostas ficam suficientemente ambíguas para não darem satisfação plena das dúvidas, que suscitam.
Esad Landzo foi guarda na prisão de Celebici, na Bósnia, quando a guerra civil ali grassou entre 1992 e 1995. Na altura tinha dezoito anos e ele, que sempre fora um jovem frágil, viu-se subitamente ditado de tal poder que os prisioneiros sérvios, recordam-no como um sádico torturador. Se lhes dissessem que se lhe detetara na infância o talento para as artes, sem sequência por serem os pais demasiado pobres para lhe financiarem os estudos correspondentes, não acreditariam. Porque se entretanto alimentara emoções fortes, haviam sido as mais negativas, as que o incitavam a humilhar e agredir quem tomava por inimigos.
A antiga Jugoslávia estava, então, a converter-se num barril de pólvora: bastara a eficiente sabotagem da CIA e outras agências para, em conluio com o Vaticano do sinistro João Paulo II, propiciar as sucessivas manifestações nos países do leste europeu, que culminariam com a queda do Muro de Berlim. Quantas tragédias, quantas mortes resultariam dessa ilusória democratização de países hoje a contas com tiranetes da dimensão de um Viktor Orban ou do sobrevivente dos Kaczynski? Em 1990 um jogo de futebol no Estádio de Zagreb, opondo croatas e sérvios acabou no prenúncio do que ocorreria dois anos depois. Demonstração inequívoca dos riscos de contemporizar com a barbárie das claques clubísticas...
Ao sair da prisão, em Helsínquia, dez anos depois da sua condenação no Tribunal de Haia, Esad não tem emprego, nem visto para nenhum país, que o aceite ter por hóspede. E muito esperará para voltar finalmente à Bósnia natal para procurar as suas vítimas e pedir-lhes desculpa. Sem quase nunca ter sucesso, porque elas mantém vivo o ódio pelo sofrimento, que lhes infligira.
Ao chegarmos ao final do filme podemos admirar-lhe a coragem de voltar a enfrentar quem tanto fizera padecer, mas desconfiamos que não voltará a recuperar da morte abrigada dentro de si sob a forma de um complexo de culpa sem remissão...

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