quarta-feira, março 06, 2019

(DL) Quando Proust iniciou a busca do tempo perdido


Em 1906, quando acabara de perder a mãe, Marcel Proust andou a vaguear pelos jardins de Versalhes à procura do seu próprio tempo perdido. Na época o Palácio estava quase abandonado, as silvas cobriam boa parte do que haviam sido os imponentes jardins do Rei Sol. Essa decadência só podia intensificar-lhe a sensação de nostalgia  ao mesmo tempo que lhe estimulava a ideia para o ambicioso projeto literário concretizado nos anos seguintes.

Terá sido então que pensou em serem os verdadeiros paraísos, aqueles que, em definitivo, se perderam?
Alojado no Hotel des Reservoirs acaba por se enclausurar no quarto na maior parte da estadia, apesar de ter disponível uma porta nas traseiras do edifício, que lhe franquearia a passagem para os jardins reais adjacentes. Meses depois já «Do Lado de Swann» estava a ganhar existência no papel.
Proust voltaria a Versalhes quatro anos depois, instalando-se, então, no recém-inaugurado Trianon Palace, onde o ex-amante, o cantor de ópera Reynaldo Hahn, iria atuar. O que observa nas pessoas, com quem aí convive, servir-lhe-á de grande proveito para criar muitas das personagens dos diversos romances, que integram «Em Busca do Tempo Perdido», verdadeiro fresco literário sobre a Belle Époque, que não tardaria a ser varrida pelas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

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