quarta-feira, março 13, 2019

(DIM) Três filmes lusos recém-estreados, mas de valor só um!


Manoel de Oliveira foi fértil bombo da festa para quantos andaram anos a depreciar o cinema feito em Portugal, criticando-lhe a lentidão ou o pendor excessivamente intelectual. E, no entanto, os filmes do Mestre, e de muitos outros nomes ligados ao «Cinema Novo» e alguns, que lhes foram na peugada, lá venceram festivais, e conquistaram inequívoco prestígio internacional.
Esses detratores consideravam como forma alternativa de conseguir uma cinematografia de sucesso, com magotes de espectadores a encherem as salas de cinema, a aposta num tipo de filmes mais comerciais, que suscitassem risos alarves em plateias de indigentes e imitassem, com parcos meios, os que provinham de Hollywood. Explica-se, assim, que os últimos anos têm sido poluídos por uma caterva de títulos, que mostraram o contrário: mesmo recorrendo a habilidades tipo remakes das comédias dos anos 40, o sucesso comercial é muito limitado e tratam-se de propostas cinematográficas tão mazinhas que, ao contrário dos filmes de autor, não ganham um cêntimo além-fronteiras.
Nas últimas semanas estrearam-se dois filmes desta tendência comercialóide nalguns produtores nacionais. «Snu» de Patrícia Silveira é uma coisa tão descabeladamente de direita, que se revela intragável logo como projeto. Até porque caucionada por essa «historiadora» (sic...) execrável, que é Helena Matos.
Ao contrário da série de Fernando Vendrell, que cuidava da mesma personagem a par das de Natália Correia ou Maria Armanda Falcão, não é a abordagem do Portugal salazarista-marcelista, que está em causa, e que Snu Abecassis tentou abalar com as Publicações Dom Quixote. O que a «realizadora» intentou foi replicar em Sá Carneiro e na amante dinamarquesa o mito de Pedro e Inês. Como se esse mito nacional pudesse potenciar o de um político baixote, e que de bailarino se presume saber muito pouco, de tendências ditatoriais como se viu nas guerras internas do PPD por si protagonizadas na segunda metade dos anos 70, e que NADA, mas mesmo NADA, trouxe de bom para o país e para os portugueses, até ter morrido em Camarate.
Os críticos, que sofreram a penitência de ver o filme, concluíram ter narrativa tosca, cheia de redundâncias e com a visão púdica dos dois protagonistas nem sequer terem cenas de cama, como se, no platonismo das elucubrações orais encontrassem fascínio bastante para não traírem carnalmente os conjugues a que se encontravam ligados. 
Mas o que esperar de uma realizadora que lembra o acidente fatal como tendo criado um clima lúgubre na casa em que vivia e multiplicar-se em palavras insidiosas para com Mário Soares por, a seu ver, ter destratado o seu pífio herói?
Péssimo é, igualmente, «Imagens Proibidas» de Hugo Diogo que só espanta por a ele se ter associado um ator, Elmano Sancho, que ainda não tinha tido tão pavorosa mácula no seu currículo.
O realizador socorreu-se de um livro de outro grande logro do nosso passado recente, Pedro Paixão, que tanto entusiasmou os «intelectuais» ligados ao projeto jornalístico de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas. Nos idos anos 90 o autor de «Saudades de Nova Iorque» era incensado por essa gente como um génio, quiçá competindo com outro logro, António Lobo Antunes, na disputa pelo Nobel da Literatura.
Afinal nem um, nem outro lá chegaram, que Saramago tratou de muito justamente, atirá-los para um canto inglório. O Invejoso no seu persistente lamber do umbigo e nos insultos ao rival, e o bipolar a remeter-se a progressivo e merecido anonimato. Até agora, quando este «realizador« de duas anteriores longas-metragens, de cuja existência já esquecêramos, decidiu resgatá-lo na forma de um fotógrafo de polaroides, com o projeto de captar mulheres lindas, todas elas lhe caindo no leito, sem que ele nada fizesse para isso. Embora a idade não o revele, Hugo Diogo parece acometido de precoce e incurável andropausa, com um filme à medida dos sonhos eróticos do mais desbragado macho lusitano, aquele que olha para a mulher e a despe de cima abaixo e nada mais lhe interessa que horizontá-la rapidamente para logo passar à que se lhe siga.
Em suma trata-se de coisa indigesta, ao pior estilo do que pode ter o cinema português.
Valha-nos a compensação de haver «A Portuguesa« de Rita Azevedo Gomes, porventura a herdeira mais fiel de uma certa forma de filmar de Manoel de Oliveira. Recorrendo, tal como ele, a Agustina Bessa Luís, que fez a adaptação do conto homónimo de Robert Musil, a cineasta criou um dispositivo cénico teatral, com cada fotograma a valer como autêntico quadro, que valeria a pena parar para apreciar a minúcia e a excelência estética da sua composição. Ademais, numa história passada na época em que um duque da Germânia estava em conflito com o bispo de Trento, a baronesa oriunda da nossa geografia mostra-se ousada bastante para ser tida como bárbara entre aqueles bárbaros. O que permite uma pertinente reflexão sobre a condição feminina.
Provavelmente nenhum dos três filmes conhecerá grandes sucessos públicos, mas, infelizmente, quanto à sua promoção os dois primeiros detém um favorecimento, que só o último deveria granjear.

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