quarta-feira, maio 06, 2020

(NM) A cidade dos "anjos"


Prometem-me um programa dedicado a Los Angeles com três reportagens diferentes sobre a cidade onde a indústria cinematográfica se estabeleceu e as coisas começam logo a virar para o torto, quando a primeira é dedicada a James Ellroy. Ora a minha antipatia pelo autor de «L.A. Confidential» é antiga: remonta aos tempos em que lhe ouvi propósitos racistas e anticomunistas a par da endeusada admiração pela polícia da sua cidade. Que, de qualquer maneira, nunca descobriu quem lhe matou a mãe, quando ainda era miúdo.
Continua por perceber a razão, porque os franceses - e a proposta em causa proveio do canal ARTE - dão tanta atenção a tal escrevinhador. Mas convenhamos que, igualmente, estou para perceber porque costumam valorizar Lobo Antunes em detrimento de José Saramago. Talvez resida aqui algo relacionado com o que constatamos como a irremediável decadência cultural no país que foi o de Sartre, de Marguerite Duras ou de Louis Aragon.
Numa segunda reportagem vimo-nos levados ao encontro do estilo art déco em muitos edifícios da cidade. Boquiabertos com o que viam em França na belle époque, os novos ricos da especulação imobiliária, que prolongaria a urbe para os atuais cem quilómetros de extensão, decidiram construir prédios com fachadas em linhas direitas, mas com as estatuetas e outros motivos decorativos copiados do que já começava a passar de moda no país de origem. Momento alto da peça jornalística foi aquele em que a anfitriã da equipa de filmagens revelou o seu «modesto apartamento» num prédio onde, até um ano atrás, Johnny Depp ocupara uma boa parte, e se autoelogiava por aquele ambiente em que podia usufruir um dia-a-dia simples e ... elegante!
A terceira e última reportagem tinha Venice Beach como cenário para evocar o que aí aconteceu nos anos vinte: o realizador Thomas Ince comprou o aeródromo junto à praia e organizou números de acrobacia aérea para gáudio dos banhistas. Mas não se pense que se tratava de piruetas dos biplanos da época: quem se exibiam eram duplos, que ele costumava utilizar nos seus muitos filmes e causavam admiração por caminharem nas asas dos aparelhos ou saltando de um para outro.  Vistas à distância de um século essas imagens de arquivo ainda espantam quanto à audácia de tais artistas...

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