terça-feira, maio 19, 2020

(DL) Aventuras de três russos e três ingleses na África Austral


Dos romances concebidos por Júlio Verne para as suas Viagens Extraordinárias, este é um dos menos conhecidos. Escrito e publicado em 1872, primeiro na forma de folhetim de jornal, depois na de livro, decorre numa região conjeturada pelo autor a partir dos relatos dos exploradores e aventureiros dela conhecedores. Daí não serem poucos os erros factuais detetáveis no decurso das aventuras de três russos e outros tantos ingleses, conjugados na missão científica de medirem uma parte do meridiano terrestre entre a catarata de Augrabies e a Cidade do Cabo. Às tantas as rivalidades nacionalistas vêm ao de cima por ter-se declarado a guerra da Crimeia, pondo os franceses e os ingleses contra os russos. Se a relação entre os dois líderes da expedição - o coronel Everest e Mathieu Strux já não era grande coisa, ainda pior fica. Valerá que, para o sucesso da incumbência, haja uma relação amistosa entre William Emery e Michel Zorn. Daí que as sucessivas vicissitudes irão sendo ultrapassadas no périplo que vai da atual fronteira namibiana ao Observatório do Cabo, passando pelo rio Orange e pelo deserto do Kalahari. Mokoun, que os guia na região mais agreste da viagem, acaba por ter um desempenho fundamental, que o equiparará, em importância, aos seis personagens europeus.
Com este romance, Verne quis homenagear François Arago, que medira a porção do meridiano entre Dunquerque e a ilha espanhola de La Formentera, ficando preso nesta última, quando rebentara a guerra franco-espanhola. E, denotando uma perspicácia admirável, Verne transmite uma mensagem progressista, quando realça o potencial destrutivo do homem branco, quando investe nas paisagens africanas como se delas se sentisse legítimo dono...

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