sexta-feira, maio 08, 2020

(G) A União Soviética vista por Cartier Bresson


Quando Henri Cartier Bresson chegou a Moscovo na qualidade de um dos primeiros repórteres ocidentais autorizados a captar as imagens do que era a vida soviética de então, Estaline morrera há pouco. O antigo comunista, que cofundara a agência Magnum, estava pouco interessado em explorar a iconografia do pai dos povos porque, como de costume a lendária Leica estava focada nos expressões dos rostos e corpos dos cidadãos comuns, aqueles que melhor testemunhavam o ser e o estar naquele momento específico da história da URSS.
Ao dar com a estranheza, que tudo lhe causava, reconheceu aquilo que viria a descrever da seguinte forma: “em Moscovo sentimo-nos como campónios acabados de chegar à cidade de tal forma era imensa a vontade de ver e conhecer”.
Partindo da Praça Vermelha, donde se divisavam as cúpulas douradas e as muralhas atrás das quais escondiam-se segredos impenetráveis, Cartier Bresson iniciou o périplo pré-planeado por todos os sítios, que pretendia visitar e explorar na sua captável realidade: não só as ruas, mas sobretudo as fábricas, as igrejas, os corredores do metro, onde lhe fosse possível fotografar pessoas sem elas quase se darem conta de estarem a suscitar-lhe a atenção.
Na notável construção subterrânea dos anos 30, concebida não só como acesso rápido a várias zonas da cidade, mas também como museu destinado ao povo, o fotógrafo apanhou a reação atónita de camponesas provenientes de distantes kolkhozes de visita à capital e encantadas com uma das suas maiores atrações turísticas.
No final da estadia, Henri Cartier Bresson confessou a consciência de ter apreendido uma realidade fragmentária, mas de inolvidável riqueza por lhe ter proporcionado uma multitude de estímulos visuais difíceis de interiormente estruturar.

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