sábado, maio 16, 2020

(DL) Henri Michaux no Equador


No dia de Natal de 1927 Henri Michaux e dois amigos apanharam o comboio em Paris para dirigirem-se a Amesterdão, onde embarcaram no paquete Boskoop. O destino que os motivava era Guayaquil, o principal porto do Equador, país que tanto lhes fora elogiado por Alfredo Gargotena, quando com eles convivera nos ambientes boémios da capital francesa, e agora se aprestava a servir-lhes de anfitrião.
Michaux enfadara-se dos ambientes artísticos, autodesignados de vanguardistas, e partia à procura de novas paisagens, capazes de o aproximarem da tal transcendência, que nunca desistiria de procurar. Quanto mais não fosse através dos paraísos artificiais, que visitaria com particular entusiasmo.
O primeiro encontro com Quito foi extasiante: nenhum país latino-americano mantivera em tão bom estado de conservação a arquitetura colonial. Mas a mesquinhez da pequena burguesia local depressa o incomodou estimulando-lhe expedições para o interior, ao encontro desses índios, cujos rostos duros e esfíngicos espelhavam a dignidade da cultura dos seus valores ancestrais.
Os Andes atraíram-no com as paisagens capazes de lhe susterem a respiração, primeiro de prazer, mas depois com a dor, quando tentou a subida do Chimborazo, e não resistiu aos efeitos da altitude. Não lhe escapou, ainda assim, o gigantismo passível de lhe provocar a sensação de perder todas as referências.
Experimentou, então, outra alternativa: embrincar-se na floresta amazónica para descobrir a diversidade da fauna e da flora e, sobretudo, aquilo que designou como harmonia orgânica.
A estadia durou quase um ano, ao longo do qual escreveu as impressões quotidianas num caderno de viagem. Páginas que publicaria em 1929 com o título «Equateur», nelas se prefigurando muito do que caracterizaria a futura obra poética...

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