segunda-feira, maio 25, 2020

(DIM) «Julgas que a terra é matéria morta» de Florence Lazar (2018)


Um dos festivais de cinema que, anualmente, têm maior sucesso entre os cinéfilos, é o DocLisboa, este ano previsto para decorrer entre 22 de outubro e 1 de novembro, acaso o covid 19 não o impeça. Quem o costuma frequentar tem a oportunidade para conhecer realidades e lutas sociais habitualmente alheadas da informação canalizada pelos grandes grupos de comunicação social, revelando padrões alternativos da análise da atualidade.
Julgas que a terra é matéria morta é o tipo de filme, que se enquadra na programação desse festival. Realizado por Florence Lazar que, além de cineasta, tem conhecido justificada reputação enquanto artista plástica, mostra como a população da Martinica está a devolver à vida a natureza da sua ilha, depois da devastação nela causada pelo kepone, um tipo de inseticida semelhante ao DDT, hoje proibido nos países ocidentais depois de tantos danos causados na biodiversidade das regiões onde foi aplicado e, sobretudo, na saúde das populações, vitimadas pelos seus efeitos cancerígenos.
Os causadores da poluição foram as grandes empresas bananeiras detidas pelos descendentes dos antigos colonos esclavagistas, que viram na monocultura a estratégia mais eficiente para incrementarem os lucros. O filme sugere que as causas ecológicas não podem ser dissociadas de fundamentos políticos, invariavelmente, associados à análise marxista sobre as lutas de classes. Porque cingir as reivindicações ambientais a um foco específico sem questionar o tipo de sociedade em que os efeitos danosos se fazem sentir, é caminho meio andado para nada mudar no essencial.
Florence Lazar alterna a beleza sensual das imagens do interior da ilha caribenha com os rostos determinados dos camponeses que procuram eternizar os saberes ancestrais através da plantação de espécies botânicas em perigo de extinção como a atouma, cujas virtudes farmacológicas abrangem diversos males.
Numa altura em que se torna fundamental o conhecimento da pegada ecológica de tudo quanto consumimos, os defensores de uma agricultura sustentável apontam baterias para a necessidade da autossuficiência alimentar.
O filme de Florence Lazar funciona, pois, como mais uma bandeira para a prolongada guerra em prol de ecossistemas equilibrados e ricos em diversidade, mesmo que contrários à lógica gananciosa dos grandes grupos económicos.

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