terça-feira, maio 05, 2020

(DL) Os gestores e a matriz nazi


Libres d’obéir é um ensaio recentemente publicado pela Gallimard e em que o seu autor, Johann Chapoutot, demonstra como as estratégias de gestão adotadas pelas empresas nas décadas mais recentes, todas elas destinadas a aumentar a produtividade dos recursos humanos, têm origem no nazismo. Desengane-se quem crê que as metodologias seguidas pelo management provém dos Estados Unidos: com a lógica de quem acredita num darwinismo social os tecnocratas nazis já tinham teorizado e implementado a diluição do papel do Estado em proveito de uma comunidade definida pela sua raça. Daí que, tendo por objetivo o rearmamento do III Reich e o extermínio dos que consideravam seus inimigos, os responsáveis hitlerianos encorajaram os subordinados a mostrarem espírito de iniciativa, pragmatismo e flexibilidade.
No ensaio avulta a personalidade de um general das SS, Reinhard Höhn, que escapou aos julgamentos de Nuremberga e abriu, depois do fim da guerra, um Instituto de Gestão que, nas décadas seguintes, formou a elite económica e patronal da República Federal da Alemanha. Até à década de 80, altura em que começaram a prevalecer modelos de gestão menos hierarquizados, pode-se dizer que os principais dirigentes alemães continuaram a ser moldados de acordo com os princípios concebidos e desenvolvidos pelo regime, que se teria julgado definitivamente derrubado há setenta e cinco anos.

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