segunda-feira, maio 11, 2020

(DL) Lendo Olga Tokarczuk


Comecei a ler Viagens de Olga Tokarczuk e confesso ter andado um bocado à deriva nas primeiras cem páginas. Qual é o tema do livro? Reflexões esparsas da autora enquanto percorre sucessivas geografias? Dar conta das singulares conferências ouvidas nos halls de aeroportos com especialistas a versarem sobre a Psicologia das Viagens para a meia dúzia de distraídos ouvintes dispostos a dar-lhes alguma atenção? Ou a coletânea de sucessivas histórias sobre temas, que não constituiriam por si um motivo prioritário de interesse dos leitores, mas que as vão acompanhando com a sensação de tudo aquilo acabar por fazer algum sentido mais adiante?
Agora que ando a meio do livro a conclusão a tirar é a de que ele é mesmo a mistura de todos esses temas, daí se justificando a questão: ok, e qual é o problema?
É verdade que, de motu próprio não procuraria informações detalhadas sobre a vida de Philip Verheyen, que ganhou notoriedade como anatomista e desenhador de enorme talento, responsável por pormenorizada representação dos órgãos do corpo humano por ele detalhadamente dissecados. Ou sobre a notável coleção de amostras anatómicas de Ruysch que, por essa mesma altura, costumava proporcionar impressionantes espetáculos com as autópsias dos corpos chegados à sua mesa de cientista. Ou o fascínio do czar da Rússia, Pedro I, que viu um desses espetáculos e logo propôs uma fortuna por tal coleção.
Levado às boas pela prosa da escritora, compreendo melhor porque lhe foi dado o Nobel. Acompanhando os relatos contidos no livro sou amiúde maravilhado com momentos de jubiloso deleite como aconteceu na descrição da viagem entre Leiden e Amesterdão do referido Philip Verheyen e de um seu assistente, que quase nos faz recuar três séculos e meio para visualizar tudo quanto eles vão descobrindo  como se verdadeiramente os acompanhássemos...

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