quinta-feira, dezembro 29, 2005

UMA QUESTÃO DE MANIPULAÇÃO...

Num comentário a um dos posts, inserido no meu Blog, a G. coloca a questão de existir manipulação nas imagens, que nos precipitam para a compaixão para com as vítimas do tsunami em detrimento das desprezadas vítimas do Paquistão ou da Cachemira.
E é claro, que devemos reconhecê-lo: todas as imagens, sejam elas quais forem, carregam em si o estigma de uma manipulação. Porque nunca são objectivas nem, na maioria, inocentes. Elas transportam, implícitas, o ponto de vista de quem as captou, as montou, as realizou.
Seres permeáveis a todas as mensagens que nos rodeiam, podemos assumir uma certa proactividade, que nos permita ser manipulados pelas que mais nos convenham: quando compro o jornal A em vez do jornal B, quando prefiro parar o zapping no canal C em vez do canal D ou quando opto pelo filme E do cinema F em vez do filme G do cinema H, estou sempre a optar por entre as diversas manipulações com que me procuram condicionar num ou noutro sentido.
É por isso que a questão da propriedade dos meios de comunicação é muito mais relevante do que cingi-la à mera discussão da liberdade de expressão. Em Itália, por exemplo, há em aparência o respeito por esse pressuposto embora a realidade, condicionada pelo poder exagerado de Berlusconi nas televisões e nos jornais, seja bem diversa. Dirão alguns que isso não impedirá a sua previsível derrota nas próximas eleições mas, a acontecer, ela não se medirá na sua mais adequada dimensão quanto aos méritos ou deméritos das propostas políticas colocadas aos eleitores. Apesar de muito negativa para a ampla maioria dos eleitores, a lista comandada pelo cavalieri é capaz de ser derrotada por uma margem muito inferior à merecida…
É possível estabelecer um paralelo com o que se passará com as eleições presidenciais do próximo mês: foram os jornais e as televisões dominadas por quem detém o poder económico e pretende colher maiores dividendos do parcelamento da riqueza nacional, quem incensou um político medíocre, cuja governação foi um fiasco apenas escamoteado pelos então lautos subsídios comunitários, e que agora se apresenta como salvador da pátria.
Uma clássica operação de manipulação para vender gato por lebre. E que assusta os próprios infractores: depois de escorregar com a óbvia intromissão na área de intervenção do Governo ao propor um secretário de Estado para tomar conta do capital estrangeiro, ele foi obrigado a despir a máscara de quem nunca tem dúvidas e raramente se engana. E a dar o dito por não dito numa atitude muito pouco presidenciável…
Por isso há quem tema o que se irá passar nas próximas semanas, como se detecta nalguns colunistas dos jornais económicos mais relacionados com esse poder económico, que nele aposta para «temperar» as preocupações sociais do Governo: e quem admita a possibilidade de ver esfumar-se este favoritismo inquestionável se José Sócrates entrar em força na campanha…
A eventual divulgação da imagem de um político em ascensão - cuja determinação e sentido de Estado estão a produzir resultados, mesmo contra as egoísticas reivindicações das diversas corporações - ao lado do candidato Mário Soares poderá criar o efeito manipulador pretendido por quem se assume de esquerda. E virar por completo a relação de forças entre as várias alternativas surgidas nestas eleições...

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