domingo, dezembro 11, 2005

«LA SALAMANDRE» de JEAN CHRISTOPHE RUFIN

Existe no céu astral uma constelação pouco conhecida e quase invisível: a do Camaleão. Ao abrir o ultimo livro de Rufin antes de pensar na salamandra é ao camaleão, que se é forçado a pensar. Como ? Passar com uma tal facilidade do ensaio político para o romance histórico, do romance histórico para a ficção científica e, depois, desta para o romance sentimental! Há nele uma frescura à moda de Pagnol: como não sabe que é impossível, fá-lo. E com que talento!
«A Salamandra» é, pois, um romance sentimental, uma harmónica que Rufin ainda não experimentara. Catherine, a sua nova heroína, é uma francesa de 46 anos. Na iminência da menopausa, ela afoga-se em trabalho até a empresa quase a obrigar a meter férias.
Primeiro contacto com o calor: as férias decorrerão no Brasil! Viva o Recife e a sua praia. Aonde Catherine se sente renascer...
Segundo golpe de calor: ela conhecerá um jovem brasileiro, um gigolo, que ela aceitará tal qual ele é.
Ela irá deixar-se - numa terceira etapa abrasadora - queimar com ele na paixão dos jogos carnais. No que se transformará em elucidativa parábola…
Mas voltemos a esse animal enigmático, que dá pelo nome de salamandra: ela vive no ou do fogo?
Até onde o ser humano precisará de um objecto de desejo? Até onde se poderá dizer, que é autónomo?
É claro que se pode criticar em Rufin a inexistência de uma qualquer inovação formal. Que o seu livro em nada contribuirá para a História da Literatura.
Não faz mal, porque que capacidade narrativa. Que coragem, igualmente, para assumir uma sensibilidade feminina até a uma dimensão de que o julgaríamos incapaz.
Um Rufin íntimo, que regressa ao Brasil, já não como o do «Rouge Brésil», o continente do século XVI, então um paraíso terrestre povoado de canibais mais sábios do que os cristãos.
Em «A Salamandra» não há justiça, pelo menos de acordo com as convenções da lei. O paraíso dos canibais transformou-se numa favela.
De que estrela caiu a salamandra?
(Lire)

Sem comentários: