terça-feira, dezembro 27, 2005

UM ANO DEPOIS DO TSUNAMI

Passado um ano sobre o tsunami, que varreu as costas do Sudoeste Asiático, as televisões foram pródigas em imagens sobre essa devastação.
Na maioria já as conhecíamos, mas há sempre uma certa atracção mórbida por revê-las, ao constituírem uma forma de exorcizarmos o nosso medo da morte, as nossas próprias inseguranças perante tudo quanto nos ultrapassa...
Estamos, de facto, num tempo de contínua obsessão com tantas fragilidades íntimas. Longe, muito longe, vai o passado em que nos acreditávamos invencíveis, irresistíveis, imortais. Em que os nossos desejos pareciam transformar-se em realidades.
Não foi assim. Crescemos, amadurecemos e encontrámo-nos reduzidos à dimensão de meros peões num xadrez planetário, aonde os reis e as rainhas é quem mandam…
E sentimos crescer o medo de sofrer.
Quando vemos o sucedido com este tipo de catástrofes, impressiona-nos a pequenez do homem perante a força dos elementos. Que se revelam cada vez mais mediáticas nas suas expressões diversas.
Inundações com as de Nova Orleães ou terramotos como o da Cachemira, só vieram confirmar que, em matéria de cataclismos, não há fronteiras humanas bem definidas: quer os países ricos, quer os mais pobres, são espaço privilegiado para as explosões de um planeta, que aposta em confundir as mais primárias explicações metafísicas.
Somos, pois, pequenos demais neste planeta de que somos hóspedes quase sempre abusadores dos seus equilíbrios.
Não adianta invocar um qualquer deus, nem acreditar no facto de serem coisas que acontecem só aos outros. Por que pode suceder-nos, quando menos esperamos.
Daí a questão natural: o que faria eu se estivesse ali?
É também por isso que revisitamos estas imagens: com elas acaba-se sempre por se aprender algo de possível, mesmo que remota, utilidade num futuro indefinido: por exemplo, como se detecta um tsunami através da perturbação dos animais ou do recuo das águas até para além da linha da maré baixa. Ou de como muitas mortes teriam sido evitáveis se, passada a primeira onda, a curiosidade não tivesse impelido para a praia muitos dos que a ela tinham sobrevivido. Um erro, que estivera, aliás, na origem de muitas das mortes do terramoto de 1755…

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