sábado, dezembro 03, 2005

WILL EISNER: «O COMPLOT: A HISTÓRIA SECRETA DOS ‘PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DO SIÃO’»

«Os Protocolos dos Sábios do Sião»: pretensamente autênticos, apresentam-se como o processo verbal de vinte e quatro conferências nas quais um alto dignitário judeu, não identificado, expõe perante um cenáculo de conjurados (“Os Sábios do Sião”) o seu plano secreto de conquista do mundo.
Eles foram publicados no Verão de 1903 no diário anti-semita de São Petersburgo «Znamia» (A Bandeira), e depois em livro em 1905.
Um século depois, esta fraude continua a ter uma vida duradoura. Neste tempo de regresso em força das teorias da conspiração ao universo da Internet, os Protocolos continuam a ser traduzidos, editados, lidos e acreditados em numerosos países, não só árabo-muçulmanos.
E, no entanto, a impostura já foi desmascarada desde muito cedo. Quando se tornou num dos livros sagrados do Apocalipse da nova fé ariana. Hitler, em «Mein Kampf», recomendava vivamente a leitura dos Protocolos: «No dia em que se tornar no livro de cabeceira de um povo, o perigo judeu poderá ser considerado como extirpado».
A exegese dos Protocolos, começada nos anos 20, nunca perdeu força. Como o demonstra o último álbum de Will Eisner, acabado pouco antes da sua morte, aos 87 anos, em 3 de Janeiro de 2005. Para justificar a sua obra ele explica: «Ao longo de todos estes anos, centenas de livros e de artigos fundamentados denunciaram a infâmia dos Protocolos. Contudo, quase sempre, eram obra de universitários e destinavam-se a especialistas ou a leitores já convencidos da fraude.(…) Ora, eu passei a minha vida a desenhar narrativas. Com a aceitação generalizada deste vector da literatura popular, é oportuno atacar de frente esta propaganda numa mensagem mais acessível».
A ambição não espanta da parte de um artista, que sempre defendeu a função didáctica da banda desenhada.
Para expor a história secreta dos Protocolos, Eisner privilegia a simplicidade em vez da subtileza. Apresenta como estabelecidas as hipóteses historiográficas que, apesar de sólidas, não deixam de ser debatidas, quer quanto à identidade do falsário - Golovinski - ou de quem lha encomendou - Ratchkovski, o chefe dos serviços secretos da Okraïna (polícia secreta do czar).
Segundo Eisner, os «maus» têm ideias claras quanto ao que pretendem: «E se aparecesse um documento a provar que a modernização faz parte da conspiração judaica?», pergunta um cortesão conservador de Nicolau II.
«Mas onde encontrar esse documento? Não conheço nenhum!», inquieta-se o seu cúmplice.
«Não há problema! Fabricamos um nos serviços secretos. A Okraïna encarrega-se disso em França!»
Compreende-se que os diálogos vão direitos ao objectivo, mas são essas as leis do género…
A banda desenhada ao serviço da história contemporânea? Este esforço lembra o de Art Spiegelman e a sua série sobre a Shoah, ou Tardi com a evocação do inferno das trincheiras...

(excertos de um artigo do «Le Monde»)

Sem comentários: