sexta-feira, dezembro 02, 2005

FRUSTRAÇÕES E CORAGEM POLÍTICA

Na ARTE um documentário sobre o homem que matou John Lennon. Abordando em paralelo o percurso de ambos: a vítima e o seu algoz. Para compreender como é demasiado perigoso lidar com quem sente a frustração da mediocridade. Sobretudo numa América, aonde todos são empurrados para um tipo de individualismo, que privilegia o sucesso, a notoriedade.
Marc Chapman não tinha condições nenhumas para alcançar esses minutos de glória: não tinha qualquer talento, nem vontade para se livrar das suas depressões quase crónicas. Até encontrar uma alternativa no assassinato de alguém famoso. O passaporte para se tornar notícia de jornal. Mesmo que pelos piores motivos… Mas Chapman lembra aqueles publicitários, que defendem o princípio de que, bem ou mal, o importante é falar-se do que se quer enfatizar.
Ainda assim seria possível encontrar uma história deste tipo em Portugal? A probabilidade é escassa: o que sucedeu naquela noite de há vinte e cinco anos atrás tem a chancela de uma sociedade especificamente norte-americana. Aonde a facilidade de arranjar armas coincide com o aparecimento de frequentes exemplos de serial killers, apostados em fazer pagar aos que cirandam à sua volta a sua incapacidade para se adaptarem à terra das oportunidades … afinal tão escassas para quem nelas se ilude…


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Entrevista com Mário Soares na RTP. Com Judite de Sousa a repetir uma vez mais o seu comportamento acintoso para os seus convidados de esquerda. No caso do ex-presidente e actual candidato a estratégia passou por passar mais de metade do tempo a falar do filho do gasolineiro. Como se o importante nesta candidatura não sejam os seus valores e o que representa para quem nela aposta, mas a única e exclusiva vontade em confrontar um inimigo fidagal.
Mas o velho senhor da política nacional saiu-se bem da prova, confirmando o vigor dos seus oitenta e um anos. E lembrando, sobretudo, que tem estado na primeira linha dos principais combates políticos nacionais nos últimos sessenta anos, sempre em defesa dos valores essenciais da liberdade e da democracia. Alguma vez o candidato da direita poderá invocar um tal currículo?
Só que o resultado das eleições de Janeiro continuam a ser problemáticos: se muitas vezes o eleitorado português, na sua essência abstracta, denota inesperada sapiência, noutras deixa-se arrastar pelos mais inverosímeis cantos de sereia. E teme-se que, depois de correr com a direita do Governo, acabe por a fazer, de novo, levantar a cabeça através desta inconveniente oportunidade!

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