No Japão a sexualidade não pode ser vista pelo habitual filtro ocidental, que não consegue livrar-se dos valores judaico-cristãos. Não admira que, ao invés do Ocidente, a sexualidade seja mais ostentatória, como o demonstram os mangas. Mesmo apesar da censura …
Mas Tóquio cataliza em si grandes contrastes: apesar de oficialmente proibida a prostituição existe em certos bairros

As proibições terão tido, por sinal, um efeito de reacção: mesmo não se podendo mostrar o púbis, o cinema erótico japonês conhece um fulgor assinalável. É o «pink cinema».
Koji Wakamatsu é um dos seus mais significativos autores. Em 1967 o seu filme «Os Anjos Violados» causou escândalo em Cannes. Era a história de um rapaz, que conseguia entrar num apartamento aonde viviam diversas enfermeiras e a todas matava excepto a uma delas, após uma orgia de sexo e de sangue…
Nagisa Oshima confessaria a influência desse filme, quando cuidou de rodar o seu primeiro «Império».
Filmes de pequeno orçamento, rodados em poucos dias, os «pink» dão uma enorme liberdade aos seus realizadores, que fazem aí tirocínio antes de passarem para o cinema mais convencional.
Takahisa Zeze é o realizador de «Tokyo x Erótica», de 2001, em que a Morte vem buscar o amante de uma rapariga não prescindindo de o sodomizar à sua frente. Evoluindo em sucessivos ambientes temporais, o filme conclui-se com o suicídio da própria rapariga. Eros e Tanatos aparecem, pois, scontinuamente associados.
Takashi Miike opta por um Sado-masoquismo e pelo carácter ambivalente da Mulher: ora doce, ora extremamente perigosa. Em «Audição», uma mulher vinga-se dos abusos de que fora sujeita, torturando os amantes dentro do princípio de que só existe sinceridade na dor.
Mas estas questões não se cingem ao cinema: em «Out» a escritora Natsuo Kirino fala da rotina entediante de algumas mulheres, que trabalham numa linha de produção da industria alimentar. Quando uma delas mata o marido, corta-o aos bocados e invoca a ajuda de uma das colegas para conseguir escamotear o cadáver.
Numa entrevista a escritora assume o seu interesse pelos perdedores e pelo tema da violência decorrente da sexualidade. Por isso os seus livros estão pejados de violações e outras formas de violência.
Mas numa sociedade marcada pelo budismo zen a morte tem pouca importância: é a própria civilização quem classifica de efémero tudo o que existe.
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