quinta-feira, dezembro 01, 2005

PINGUINS



Impressionante o esforço dos pinguins no seu esforço de reprodução da espécie. O documentário, por muitos considerado, como um sério candidato aos Óscares não merecia a má fama, que lhe deu a direita troglodita norte-americana ao fazê-lo paradigma dos seus valores mais retrógrados.
«A Marcha dos Pinguins» de Luc Jacquet é, afinal, um conjunto de várias marchas. Existe a primeira que, todos os anos, leva os pinguins imperadores a saírem das ricas águas antárcticas para se lançarem nos rituais de acasalamento na imensa planície situada a vinte dias de laboriosa caminhada. Porque existem muito mais fêmeas, que machos, cada escolha mútua de um casal, faz com que as preteridas se envolvam em verdadeiras cenas de estalada com as felizes contempladas…
Quando nasce o volumoso ovo começa uma tarefa muito complicada para ambos os progenitores: mantê-lo aquecido, o que implica conservá-lo sobre as patas, tapado pela espessa plumagem. E demorando o menos possível na transição de um para o outro. O que serve para demonstrar a diferença entre a habilidade dos mais experientes e a imperícia dos mais novos...
O frio intensifica-se à volta da colónia. Os dias vão-se tornando mais curtos e as fêmeas empreendem o caminho inverso ao de algumas semanas atrás: é urgente alimentarem-se, porque, tão-só ecludam, as crias exigirão rápido repasto. São os machos, quem ficam a responsabilizar-se pelos últimos dias dessa gestação. Apesar de já passarem várias semanas desde a última refeição e estarem tão famintos quanto as já saudosas fêmeas. Muitas das quais nunca irão aparecer, vítimas das focas e lobos-marinhos, que as esperam na perspectiva de constituírem presas fáceis…
Cada fêmea, que não regressa, significa a condenação da respectiva cria… Que deparam com outros sérios riscos à sua sobrevivência: o esmagamento entre adultos em disputa, os ataques das gaivotas, as quedas nas fissuras abertas no gelo…
Quando chegam as mães, é a vez dos pais regressarem ao mar na procura de merecida refeição. Mas muitos estão já tão exauridos, que nunca lá chegarão…
Verifica-se, nessa altura, um verdadeiro corrupio entre o mar e a planície–maternidade. Ora há fêmeas a chegar, ora machos a partir. Ocasionalmente pai e mãe acabam por se reencontrar uma vez mais junto ao filhote para uma iminente despedida: é que o Verão avança, os gelos vão fundindo e o percurso definitivo até ao mar torna-se, enfim, acessível aos jovens pinguins, que começam a ganhar a sua plumagem definitiva…
É o fim deste ciclo: toda a colónia mergulha nas águas geladas desfazendo-se as efémeras ligações de parentesco. Alguns meses depois surge o novo ciclo de acasalamento…
O filme dá-nos o esperado: a beleza de uma paisagem, que sabemos quase inacessível ao Homem e uma excessiva «humanização» do comportamento destes animais, sobretudo, merecedores da sua capacidade de adaptação a condições tão extremas.

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