sexta-feira, dezembro 16, 2005

Exterminadores Implacáveis

Faz algum sentido a visão de um filme menor de Clint Eastwood na mesma semana em que o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, recusou-se a poupar a vida de Stanley Tookie Williams.
Este último liderara um gang de rua, quando era adolescente. Mas vinte e quatro anos depois do seu encarceramento, o homem maduro, agora executado, era uma pessoa tão diferente, que chegara a ser ponderado para Nobel da Paz nos anos mais recentes.
O filme «True Crime» (1999) em si é linear, maniqueísta e inverosímil nalguns dos seus desenvolvimentos, mas acaba por ser interessante enquanto veículo da ideia de existir sempre a possibilidade de se executarem inocentes para os quais não haverá jamais possibilidade de remissão das consequências de eventuais erros judiciais.
Os aspectos mais contestáveis do filme é Eastwood assumir a pele de um garanhão capaz de pôr na horizontal quase todas as mulheres, que deseja. Um papel à medida das preocupações andropáusicas do realizador.
Outro é a salvação in extremis de um condenado à morte, inocentado pela avó do assassino, que já está morto e enterrado, mas se predispõe a contra como ganhara o fio roubado do pescoço da grávida por ele morta. Sem que ninguém, aliás, o visse no local do crime…
E ainda há a exagerada utilização do sentimentalismo para forçar a identificação do público com o inocente em vias de ser injectado letalmente. Convenientemente convertido ao catolicismo e transformado em responsável chefe de família…
Mas se o filme tem todos estes defeitos consegue uma dinâmica eficaz na forma como coloca os espectadores a torcerem pela não execução do réu, pela crítica a um padre assaz contraditório com os princípios da sua fé e a uma testemunha particularmente entusiasmado com o protagonismo mediático conferido pela sua presença no local do crime. Ficando colateralmente aflorada a questão como a justiça é diferente se dirigida de acordo com a cor da pele dos seus suspeitos.
A recente ultrapassagem da barreira dos mais de mil executados nos EUA desde o regresso das penas de morte apenas enfatizou o aspecto bárbaro de uma forma de castigo, que só mancha quem a ela recorre. Se até a mais que ambígua Áustria se prepara para retirar o nome de Schwarzenegger no estádio de Graz aonde ele era homenageado, fica evidenciada uma vez mais a distância civilizacional entre a Europa e os EUA.
Somando a esta clara divergência a confissão de Bush, já nesta semana, em como reconhece 30 mil mortos no Iraque desde a ocupação norte-americana e a falta de fundamento na questão das armas de destruição maciça, fica demonstrado em como, na questão dos valores, é a Velha Europa quem se deve assumir como a defensora dos padrões humanistas contra a persistência da barbárie alimentada pela mentira e pela cobiça imperialista...

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