quarta-feira, dezembro 26, 2018

(DL) O Romance Gráfico: 2ª parte - E chegou o underground!


Nos anos 70 alguns autores norte-americanos dos comics procuraram demarcar-se da produção corrente alinhando-se com a via empreendida pela corrente underground da década anterior, que criara banda desenhada contestatária sob a designação de comix, sendo esse X conotado com os filmes decididos a não se curvarem perante nenhum condicionalismo. Foi com essa intenção, que Justin Green criou aquela que se considera a primeira autobiografia em banda desenhada: «Binky Brown meets the Holy Virgin Mary» e na qual denunciava como tivera os verdes anos estragados pela religião.
Se Richard Kyle já utilizara a expressão graphic novel na edição de novembro de 1964 da revista «Capa-Alpha», voltou a aparecer em 1976 através do George Metzger, que a ela recorreu como subtítulo de «Beyond Time and Again», uma história de ficção científica, que não conheceu, porém, grande impacto.
A obra decisiva, que consolidou o conceito de romance gráfico, foi «A Contract with God and Other Tenement Stories», de 1978, que ostentou na capa a expressão. Pelo formato, pela capa, pela estória, aparentava ser um romance : tinha muitas páginas, estava desenhada a preto-e-branco e, em vez de constituir um divertimento, pretendia testemunhar a situação histórico-social relacionada com a infância do autor num bairro pobre de Nova Iorque.
Estavam criadas as condições para a distinção entre os comics e as graphic novels. Para Eisner e os que se filiavam nas mesmas preocupações artísticas, a ambição artística era tão relevante quanto o sucesso comercial. E este poderia decorrer da comercialização nas livrarias, até então vedadas à venda de bandas desenhadas. A expressão graphic novel era um pretexto para nelas se fazerem aceitar.
Foram necessários uns dez anos para que o romance gráfico se impusesse nos Estados Unidos. Revelou-se decisivo o sucesso de «Maus» de Art Spiegelman, que ganhou o Prémio Pulitzer em 1992, com o relato do reencontro com o pai através do que ele escrevera durante o Holocausto.
Em França o sucesso da fórmula muito deveu ao editor de L’Association, Jean-Christophe Menu, que quis contrariar a regra «48CC», ou seja o álbum estereotipado, de capa cartonada, e com 48 páginas, das quais 46 a cores. Entre os títulos mais significativos do seu esforço avultam  «L’Ascension du Haut Mal» (1996) em que David B. contava a sua juventude junto do irmão epilético, ou «Persépolis» da iraniana Marjane Satrapi, exilada em França na sequência da Revolução Islâmica, de que dava o devido testemunho.

Sem comentários: