quinta-feira, dezembro 20, 2018

(DIM) «Stalag 17» de Billy Wilder (1953)


Em 1952 Billy Wilder dava provas da sua irreverência ao iniciar a rodagem de um novo filme apostado em romper com o discurso maioritário sobre o que se passara nos campos de concentração nazis. Ao maniqueísmo muito básico, que colocava os nazis como os maus da fita e os prisioneiros como heroicas vítimas, respondia o realizador com a denúncia das rivalidades e pulhices, que entre estes últimos se verificavam.
Não fosse Wilder um judeu, refugiado nos Estados Unidos desde a ascensão dos nazis ao poder, e conhecido o facto de ter perdido muitos familiares no Holocausto, e talvez tivesse conhecido desagradáveis dissabores por romper com a mistificação estabelecida. Mas também tinha a seu favor o facto de se basear numa bem sucedida peça de Donald Bevan e Edmund Trzcinski, apresentada na Broadway no ano anterior, e que reproduzia a experiência dos autores nesse austríaco Stalag 17B, que dava título à versão teatral e à cinematográfica.
A história decorre em dezembro de 1944, quando os Aliados ocidentais penavam nas Ardenas, enquanto viam o Exército Vermelho avançar lestamente na direção de Berlim. De início há uma tentativa de fuga de alguns dos prisioneiros através de um túnel, mas tão só põem a cabeça de fora do outro lado do arame farpado, e têm uma patrulha alemã pronta a matá-los sem lhes dar qualquer outra hipótese. Entre os que a tudo assistem no barracão Stalag 17 instala-se a suspeita de haver ali um traidor. E o que mais se expõe a tal hipótese é Sefton, um cínico, que não enjeita negociar com os guardas os bens que, misteriosamente, ou por audaciosos truques, troca por ovos, que não partilha com mais ninguém, ou o acesso por uma noite ao barracão ali próximo, cheio de prisioneiras russas. Quando a situação se complica e se vê em risco de ser eliminado pelos companheiros, ele compreende que só tem uma alternativa: descobrir a identidade do verdadeiro traidor.
O filme foi um imenso sucesso comercial, mas azedou a relação de Wilder com a Paramount com quem doravante deixaria de trabalhar. É que não só lhe impuseram William Holden como protagonista, quando ele lhe preferira Kirk Douglas, como lhe deduziram da percentagem, a que tinha direito, o prejuízo constatado no título anterior.
A seis décadas e meia de distância o filme vale pela ironia subtil, que caracterizou quase sempre a obra do realizador, mas também a curiosidade de ver Otto Preminger a interpretar o papel de comandante do campo de concentração e o próprio  a Wilder fazer um cameo  ao jeito do que, então tanto deleitava Hitchcock.

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