sábado, dezembro 15, 2018

(DIM) «Esta Terra é Nossa» de Lucas Belvaux (2017)


Este é o filme, que tanto incomodou a extrema-direita francesa em vésperas das presidenciais de 2017, quando Marine Le Pen tinha a expetativa de vir a aceder ao Palácio do Eliseu. Na altura os principais responsáveis da candidatura propuseram a proibição do filme de Lucas Belvaux, o que só conseguiram concretizar nalgumas cidades de província onde já haviam conquistado a autarquia.
A protagonista é Pauline, uma enfermeira de quem toda a gente gosta, porque bastante empática com os pacientes, que apoia ao domicílio. Razão para que o doutor Berthier, líder local da extrema-direita, a convença a ser a cabeça-de-lista do partido à próxima eleição local. O que se lhe seguirá será o bastante para que ela sinta a vida virada do avesso: o pai, velho comunista, proíbe-lhe a entrada em sua casa, o namoro com Stéphane é desaconselhado vivamente pelo mentor e muitos dos pacientes dispensam-lhe os serviços. No limite a sua presença numa zona mais pobre da pequena cidade onde vive, desencadeia uma rixa, entre um comando fascista e os jovens do bairro com tiros e feridos a lamentar.
O que se vai evidenciando é a tentativa estratégica do lobo disfarçar-se de carneiro, com o partido fascista a marginalizar os neonazis em que costumava assentar a segurança dos seus políticos, e a aparentar uma preocupação com o povo, que resultaria de se ter reconvertido numa ideologia «nem de esquerda, nem de direita». Fica demonstrado que, se os partidos de esquerda deixam de comunicar com a população ela torna-se fácil presa dos que a incentiva ao preconceito xenófobo, prendendo-a com mistificações, que parecendo fazer sentido (até por se assemelharem às que outrora propunham os comunistas), a reduz a dócil instrumento do que, efetivamente, ambicionam: a promoção de uma nova élite política, que dê a mão ao patronato, que vive no terror de se ver trucidado pelos grandes grupos económicos e respetivos monopólios. Os quais, são de facto, os que verdadeiramente lucram com o acesso ao poder deste tipo de organizações políticas prontas a revogarem os principais fundamentos da Democracia.
Ao compreender como fora usada, Pauline desiste da candidatura, sendo rapidamente substituída por uma amiga, que se sente muito mais motivada pelas ideias radicais do partido de Berthier. Mas as surpresas ainda estão longe de para ela cessarem, ao confirmar o que o médico lhe dissera: no telemóvel do namorado encontra provas do seu presente envolvimento com quem persegue e agride ciganos e árabes. Algo que ela nunca quisera acreditar...
Não se tratando de obra memorável, o filme de Belvaux é didático, por vir lembrar o que o pai de Pauline não conseguira provar-lhe: por muito que os fascistas finjam reciclar-se em democratas, continuam a ser iguais a si mesmos. Uns crápulas...

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