sexta-feira, dezembro 21, 2018

(DIM) «O Psicopata Americano» de Mary Harron (2000)


No final dos anos noventa os yuppies estavam na moda. Narcísicos e gananciosos tendiam a conferir a Wall Street uma nova cultura em que já não bastava ganhar dinheiro - muito dinheiro! -, porque importava igualmente a imagem, que se dava para o exterior.
O romance de Bret Easton Ellis, que foi adaptado a filme por Mary Harron, teve um retumbante sucesso por esses anos, por se lhe associar um certeiro retrato sociológico dessa gente sem pinga de escrúpulo, que personificava a faceta mais hedionda do capitalismo selvagem. Aos yuppies pouco importavam os valores morais, que tinham sobrevivido às vagas neoliberais anteriores, mormente as estimuladas pelos economistas da Escola de Chicago. Tudo passava a ser permitido, até mesmo ser-se serial killer, se essa significasse a catarse para a frustração de se dar com concorrentes mais bem sucedidos.
Patrick Bateman, o protagonista da estória, é um financeiro com agenda cheia de compromissos, mas que não prescinde das horas matinais a fazer abdominais e a cuidar da pele do rosto. Tem uma namorada, Evelyn, que o trai, e a quem trai, e um conjunto de amigos tão execráveis quanto ele é. As frustrações suscitadas pelos sucessos alheios começam por lhe suscitar instintos assassinos e não tarda a concretizá-los: um pobre sem-abrigo; uma mulher encontrada a horas avançadas na rua; o rival capaz de conquistar os melhores clientes, e tinha reserva sempre assegurada para o luxuoso restaurante onde nunca lhe era franqueada; uma amiga e uma prostituta, que convencera a uma sessão triangular de sexo puro e duro; e muitos mais vítimas, que quantifica entre vinte e quarenta. Mas serão assombrações mentais decorrentes do esgotamento, que o derruba, ou algo de concreto, que a sociedade trata de branquear?
A quase duas décadas de distância o filme parece demasiado datado e incómodo para ser credível: se os yuppies estavam preocupados em exporem arrogantemente o seu sucesso, os atuais detentores das maiores fortunas optam por viverem tão clandestinamente quanto possível, cientes de lhes convir o low profil, que reduza a possibilidade de serem denunciados como inimigos a abater pelos tais 99% de espoliados da riqueza em que se deleitam quais tios patinhas...
Romance e filme tiveram o seu tempo, mas ficaram entretanto imbuídos de uma obsolescência, que os torna justificadamente olvidáveis.

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