quarta-feira, novembro 16, 2016

(EdH) Os mitos sobre a bomba nuclear dos nazis

Durante décadas criou-se a ideia de que, enquanto os norte-americanos desenvolviam o projeto Manhattan, que culminaria na destruição de Hiroshima e Nagasaqui, os alemães também estavam próximos dessa concretização, sob a direção do célebre físico Heisenberg. Daí ter-se criado tanta literatura e filmes sobre a possibilidade contra factual de termos vivido um pós-guerra bem diferente do efetivamente  verificado, com os nazis a estabelecerem sustentavelmente as bases para o seu império milenar.
Um dos mais conhecidos filmes de Hollywood sobre o tema da iminente capacidade alemã para virar  o curso da guerra, foi rodado em 1965 por Anthony Mann e tinha Kirk Douglas e Richard Harris nos principais desempenhos.  O tema era o  do atentado perpetrado pela resistência norueguesa contra o ferry «Hydro» no lago Tinnsjø, em 20 de fevereiro de 1944, para evitar o transporte de barris de água pesada produzida na fábrica agregada à central elétrica local e cujo destino era Berlim. Segundo os serviços secretos ingleses, de quem dependiam os conspiradores, esses barris eram o único elemento em falta para os alemães produzirem a temível arma. Ainda que cientes das vidas humanas, que se perderiam com o afundamento da embarcação - tanto utilizada no transporte de carga como de passageiros! - a decisão dos aliados foi a de avançar com a operação.
À distância das sete décadas desde então decorridas, sabe-se que os cientistas alemães ainda estavam bastante atrasados na concretização prática da formulação teórica do invento e a água pesada em causa, mesmo que todos os barris tivessem chegado a Berlim, seria uma pequeníssima parte da necessária para tal fabrico.
Na Noruega suscitaram-se outro tipo de dúvidas: os barris em causa conteriam, de facto, o almejado produto, ou fariam parte de uma manobra de diversão destinada a iludir a cada vez mais ativa Resistência garantindo a sua chegada a Berlim por via alternativa? É que, estranhamente, foram carregados a bordo e nenhuns militares alemães foram destacados para os vigiar e acompanhar. Será que confiariam no facto de poucos imaginarem a utilização alternativa dessa água pesada, normalmente utilizada na produção de adubos destinados a uso agrícola?
Outro motivo de suspeita tinha sido o facto de, entre os sobreviventes, encontrar-se uma jovem cuja salvação se devera a agarrar-se a um barril a flutuar enquanto não acorria o socorro propiciado por um arrastão de pesca. Ora os barris de água pesada não deveriam ter acompanhado o navio até ao fundo em vez de dele se terem libertado e ficado à deriva?
Uma missão científica decidiu esclarecer as dúvidas e conseguiu trazer do fundo do lago um desses barris, que terá resistido à usura do tempo e da pressão da coluna líquida, mantendo-se tão inviolável como no dia em que fora cheio e selado.
O resultado não deixou margem para dúvidas: com um ph de mais de 14, o conteúdo era constituído de facto por água pesada. Qual então a razão para Ingeborg se ter salvo agarrada a um barril quase igual? A explicação está no manifesto de carga em que a descrição desses barris continha a informação de obedecerem a diferentes densidades e concentrações, existindo uns de ph mais elevado, enquanto outros quase o tinham próximo da água normal.
De qualquer forma confirma-se aqui aquele preceito italiano segundo o qual uma história, mesmo não sendo verdadeira, pode ser bastante aliciante...

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