sexta-feira, novembro 04, 2016

(DIM) As mulheres como protagonistas nalgum cinema português

1. Cláudia Varejão acabou de ganhar um dos principais prémios do «DocLisboa» com a longa-metragem «Ama-san», rodado junto das pescadoras de pérolas japonesas. Um filme sob o signo da água e das relações intergeracionais entre essas corajosas mulheres cuja sobrevivência depende da captura de tais ostras em apneia.
Quatro anos antes, ela assinara uma curta-metragem em que esses temas já surgiam de forma explicita: em «Luz da Manhã» existem três mulheres a mergulharem num lago e com tensões silenciosas a separá-las. Há uma avó, uma mãe e uma filha. A mais velha tem provavelmente os sinais de progressiva senilidade, mas mantém-se ciosa do seu espaço. Por isso distancia-se das outras duas, quando as vê em empatia no banho.
A realizadora aponta para equilíbrios que extravasam a própria compreensão de quem os sente ora mais estabelecidos ou ora revirados, mas o filme é, sobretudo o dos silêncios e os dos olhares entre Elisa Lisboa, Beatriz Batarda e Matilde Colaço.
2. Nesse mesmo ano, Mariana Gaivão, que coassinou, com Cláudia Varejão, a montagem de «Luz da Manhã», rodou «Solo», um filme cuja rodagem quase teve a dimensão épica do «Apocalipse Now» à escala nacional: quando a equipa de filmagens foi para Góis para concretizar o projeto, e caiu tal tempestade, com inundações à mistura, que tudo se converteu num enorme desafio.
O resultado desta bombeira, que desaparece numa gruta subterrânea, quando estava a combater um fogo florestal, tem uma fotografia lindíssima de Vasco Viana a lembrar inicialmente alguns filmes de Tarkovski.
3. Data do ano anterior, o «Cerro Negro» de João Salavisa, igualmente com fotografia de Vasco Viana.
Resultante de uma encomenda da Fundação Gulbenkian o filme retrata a visita que Anajara faz ao marido, Allison, na cadeia onde cumpre pena de prisão, que tarda em concluir-se.
Entre as dificuldades de convencer o filho a ficar com uma vizinha, a morosa viagem nos transportes, a vistoria a que o seu corpo é sujeita antes de entrar no recinto onde ele a espera, tudo contribui para fazer desse périplo uma provação bem nítida no rosto profundamente triste da jovem, mas precocemente envelhecida mulher.




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