terça-feira, novembro 01, 2016

(DL) Arnaldur Indridason, «A Mulher Vestida de Verde» (2)

Benjamin Kranden é o proprietário do terreno onde fora encontrado um esqueleto com sinais de ter resultado da morte violenta de quem o corporizara. Ora a investigação policial descobre ter existido algo no seu passado, que possa explicar o achado: em vésperas de com ela se casar, a noiva desaparecera-lhe sem deixar rasto, deixando-o em profunda depressão. Será que esse esqueleto corresponderá a tal rapariga e Benjamin autor da sua morte? - essa é uma das pistas da investigação prosseguida pelos polícias do Departamento de Homicídios da esquadra de Reiquiavique neste que é um dos primeiros romances assinados pelo islandês Arnaldur Indridason.
O foco da investigação desvia-se, porém, para a vida pessoal desses investigadores. Erlandur, por exemplo, tem a filha em coma no hospital, depois de uma hemorragia, que lhe fez perder o feto albergado no ventre. Mas a condição de toxicómana explicará em grande parte o sucedido. Ou não?
Ele questiona-se: “seria sua a culpa? Seria de alguém que não ela própria? Não caberia a ela o ter chegado àquele estado? A sua dependência da droga a quem senão ela poderia ser atribuída a responsabilidade? Ou caber-lhe-ia a ele uma parte da culpa do sucedido?” (pág. 123)
É que, sentindo incompatibilidade com a vida de casado, abandonara a família, quando os filhos ainda mal tinham começado a andar.
“As questões que Eve Lind lhe colocava sobre o passado embaraçavam-no sempre. Não sabia o que lhe dizer sobre esse breve casamento, as crianças que tinha tido e a razão que o levara a partir. Não tinha resposta para todas essas questões e isso encolerizava-a. Sentia-a sempre suscetível quando se tratava da família.” (pág. 135)
Uma questão, que o leitor também pode pôr, é sobre a credibilidade da investigação de um crime perpetrado há tantos anos, pois data do tempo em que os soldados ingleses ocupavam aquela colina e a guerra fustigava toda a Europa.
Enquanto Sigurdur Oli descobre na cave o nome do inquilino da casa adjacente ao achado - Höskaldur Thorarinsson -, que abre outra via da investigação, Ellinborg visita Bara, a prevista cunhada de Benjamin se a irmã não tivesse desaparecido quinze dias antes do casamento. Ela é taxativa quanto à possibilidade dele constituir um suspeito válido para o sucedido à irmã.
Por Elsa, sobrinha de Benjamin, Sigurdur fica a saber que, no dia em que desaparecera, Solveig rompera o noivado por estar grávida de outro homem. E tem algo, que pode esclarecer a dúvida sobre a coincidência do esqueleto com a desaparecida: uma mecha do cabelo num pendente.
Voltando a casa, esse polícia também conta com problemas pessoais a resolver: Berghora, com quem vive há alguns anos, pressiona-o para que se casem e tenham filhos, agora que chegaram aos 35 anos. Uma mudança de estatuto que ele duvida ser do seu agrado, confortável que se sente com o estado presente do relacionamento entre ambos.
Para complicar o enredo, Indridason vai inserindo um flash back correspondente a esse passado distante em que o crime ocorreu e onde assistimos a sucessivos episódios de violência doméstica de um brutal Grimur para com a mulher, a enteada e os filhos.
Como de costume, as várias narrativas paralelas tenderão a convergir para o epílogo, que se aproxima. 

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