A rivalidade entre povos cujas fronteiras se tocam é inevitável e só a criação de realidades como a do espaço Schengen permitirá ir diluindo a atávica desconfiança entre vizinhos. Por exemplo na escola primária, quando o fascismo ainda parecia de pedra e cal, os professores alimentavam um ódio ao espanhol, que tinha a ver com o período de ocupação filipina. Nessa época acreditávamos seriamente no ditado segundo o qual de Espanha nem viriam bons ventos nem bons casamentos.
No início do século XX o antagonismo franco-alemão fundamentava-se na ideia de vingança e de regresso à mãe pátria das províncias perdidas a leste (Alsácia e Lorena). Os franceses também temiam os efeitos da impressionante explosão demográfica alemã ao contrário do que sucedia com a curva demográfica gaulesa.
Em Paris sentia-se avolumar a sombra do inimigo hereditário, pois a França só dispunha de 74 divisões militares contra as 94 alemãs: por esse andar o que aconteceria daí a vinte anos?
Havia algum consolo na ideia de que a aliança com a Rússia czarista era sólida e beneficiava da reestruturação do respetivo exército após a guerra da Manchúria.
A Inglaterra também estava alinhada com a França ou, pelo menos, assim prometia.
A rivalidade franco-alemã verificava-se em vários tabuleiros: na expansão colonial, na exportação de produtos e na conquista de mercados financeiros. Já há vários anos que as empresas alemãs tinham ganho influência dentro do próprio território francês.
A Rússia ainda estava nos primórdios da sua industrialização, impulsionada pelo ministro de Witte, e via com inquietação a arrogância dos defensores da «teoria do «espaço vital» e da forte concorrência económica da Alemanha.
Face à coligação da França com a Rússia e com a Inglaterra, a Alemanha assina acordos de cooperação com o Império Austro-Húngaro e com a Turquia.
Para o Império sedeado em Viena o inimigo fidalgal era o conjunto dos povos eslavos, fossem eles sérvios ou russos. Por seu lado a Turquia tinha bem presente as pretensões russas para contar com o acesso ao Mediterrâneo, que, ainda há pouco, justificou a anexação da Crimeia. Vendo os antigos aliados ingleses coligarem-se à Rússia, os turcos viraram-se para Guilherme II da Alemanha para romper o isolamento político em que se viam.
A Alemanha, que não possuía colónias, apostou numa eficiente campanha de propaganda em que se apresentava como protetora das nações ultramarinas e garante da sua independência. Em pouco tempo passou a dispor das simpatias dos povos colonizados de toda a bacia do Mediterrâneo, desde o Cáucaso a Marraquexe.
Ao declararem a guerra os povos e os governos da Europa podiam alegar todas as justificações possíveis, ora dando-se como vítimas dispostas a proteger as suas fronteiras, ora como defensoras da honra e dos seus direitos.
Por essa altura só a Itália era tentada pela neutralidade, muito embora os nacionalistas (que execravam o antigo ocupante austro-húngaro) e os socialistas (pela sua estratégia revolucionária) pressionassem no sentido da participação mediante ao recurso a uma imprensa complacente para com os seus argumentos de acesso às matérias-primas das colónias para quem estivesse com os vencedores no fim do conflito.
Sem comentários:
Enviar um comentário