Não consigo identificar quando dei com a obra de VHILS pela primeira vez. Sei que foi a artista cá de casa quem me alertou para um rosto esculpido pela técnica do «scratching» numa parede entre o Aqueduto das Águas Livres e o Jardim Zoológico para quem conduzia pelo eixo Norte-Sul.
Depois foi outro rosto, criado com a mesma técnica para uma parede de Campolide visível para quem descia da Praça de Espanha para o acesso à Ponte 25 de Abril.
Na altura ainda não se falava de Banksy, mas Keith Haring e Jean Michel Basquiat já demonstravam que a arte urbana era bem mais do que o vandalismo de que muitos dos seus praticantes eram acusados.
Crescendo quase a par do hip-hop e com objetivos de contestação social aparentados, este género tem-se afirmado com cada vez maior evidência, ganhando expressão em exposições nas mais conceituadas galerias e museus a nível mundial.
VHILS viu agora chegada a oportunidade de expor o seu talento no Museu da Eletricidade, onde podemos testemunhar obras por ele criadas por várias cidades dos vários continentes.
Mas a obra de Alexandre Farto distingue-se bem do que vem sendo concebido por outros artistas urbanos: os seus rostos são os de todas as culturas, enfrentando-nos como que a interrogar-nos a respeito do nosso posicionamento perante uma sociedade cada vez mais gentrificada. Enquanto outros ainda apostam numa transformação da realidade, ele parece confrontar-nos com a evidência de uma sociedade onde todas as diferenças se esbatem e tudo parece neutralizar-se numa cultura de massas de onde a diferença quase não se consegue destacar.
Isso é particularmente evidente não só numa das principais peças expostas - uma carruagem de metropolitano explodida, dividida nas suas diversas partes às quais o branco quase faz parecer todas iguais - mas também no túnel onde somos fustigados pelas imagens em movimento de uma civilização continuamente bombardeada pela lógica do apelo publicitário ao consumismo.
Noutra das peças mais memoráveis da exposição somos convidados a subir ao topo de um andaime para daí observarmos de cima uma cidade feita em esferovite onde se conseguem destacar o mesmo tipo de rostos, que se tornaram a imagem de marca do artista.
Para além do interesse das obras a exposição beneficia de um excelente trabalho do curador - José Pinharanda - que volta a conseguir uma adequação perfeita entre a estética e o significado das obras expostas com os espaços da antiga central elétrica que iluminou Lisboa durante décadas.
Embora se possam referenciar outras exposições artísticas igualmente estimulantes, a de VHILS é uma das que seria imperdoável perder...
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