Em 1968 as operárias da fábrica da Ford em Dagenham fizeram uma greve bem sucedida para fazer valer o princípio da remuneração igual para trabalho igual.
Elas tinham tudo contra si, contando à partida com cinco obstáculos por superar: o primeiro era a sua inexperiência, quase ingenuidade em relação às metodologias do combate sindical. Em segundo lugar as dificuldades pessoais de cada uma das envolvidas, que viam os conjugues reagirem com desconfiança, e até com oposição ao processo de luta encetado. Depois, o próprio sindicato contava com dirigentes mais dados às regalias inerentes a tal condição do que à verdadeira defesa dos seus representados. Em quarto lugar os trabalhistas no Governo, liderados por Harold Wilson, tinham contado com a complacência do patronato nas eleições, dada a promessa de reduzirem o clima de agitação social dos anos anteriores. E, finalmente, a própria Ford ameaçava com a deslocalização das suas fábricas, temerosa de que a cedência ali se transformasse numa bola de neve em todas as demais espalhadas pelo mundo industrializado.
Embora a realização não tenha nada de excepcional, o filme conta com um argumento de peso: Sally Hawkins no papel de Rita O’Grady, a confirmar-se como uma das actrizes inglesas mais versáteis do momento, recorrendo a expressões de rosto ou corporais, que acrescentam algo mais ao que os argumentistas ou o realizador pretendiam.
É claro que muito mudou desde 1968, muito por obra dos tenebrosos anos de governo de Margaret Thatcher. As lutas reivindicativas deixaram de ter este tipo de características, tornando-se muito mais duras e difíceis de vencer. Mas não deixa de ser reveladora a necessidade de recuperação dos êxitos sindicais do passado, quando o actual estado da luta de classes evidencia a relevância de todas as formas possíveis de inflectir a obscena desigualdade entre a riqueza de um punhado de privilegiados e a crescente pauperização da maioria da população europeia…
Assim como assim, este tipo de filme pode indiciar uma vaga de fundo, que cuide de atirar para o caixote do lixo da História este tipo de capitalismo depredador, assente na especulação financeira e na globalização, e que se conclui estar cada vez mais distanciado das aspirações colectivas quanto a um nível de qualidade de vida só alcançável num outro sistema politico e económico.
Nesse sentido, «Igualdade de Sexos» vale mais pela sua qualidade cinematográfica do que pelas expectativas, que permite suscitar.
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