No Ipsilon comenta Luís Miguel Oliveira sobre a China: ainda ninguém sabe muito bem como encarar e como lidar com este esquizofrénico colosso, metade comunista e repressor, metade capitalista e selvagem. Viver entalado no meio disto não deve ser fácil, e é desta dificuldade que Jia Zhang Ke tem falado. Sem querer explicar nada, mas ajudando a compreender, mostrando e fazendo ouvir.
O filme congrega dezoito depoimentos de habitantes de Xangai, arrumados por ordem cronológica, desde os veteranos, que viram a chegada dos comunistas em 1949 até aos jovens enfeudados à parafernália de gadgets modernos.
O que Jia Zhang Ke mostra vai ao encontro da minha memória sobre uma cidade aonde vivi durante cinquenta e tal dias em 1998: arranha-céus a nascerem como cogumelos, apagando os traços da cidade antiga, e dando azo à criação de uma espécie de cosmopolitismo aonde os valores estão completamente marginalizados pelo endeusamento do deus dinheiro.
Constatam-se as mudanças, mas não se ilude uma nostalgia por um tempo em que emoções e cumplicidades subsistiam sem esse vale tudo sem escrúpulos, aparente via incontornável para o sucesso amargo de quem tudo tem e a quem tudo parece faltar...
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