quinta-feira, dezembro 29, 2011

Documentário: SAYOMÉ de Nikos Dayandas (2011)

Este documentário parte de um pressuposto bastante aliciante: nos anos setenta uma jovem japonesa deixou Tóquio para se radicar na ilha de Creta, atraída pelos encantos do marinheiro Manoulis.
Não se tratara de decisão fácil nem para um, nem para o outro: o pai dela proibira-lhe o uso do apelido de família por ver nessa expatriação uma desonra e os dele bem o tinham instado a criar família com uma das muitas raparigas casadoiras da ilha.
Passaram-se, entretanto, trinta e cinco anos e Sayomé, agora com 62, sente uma vontade de reencontro com os pais e os irmãos até então esquecidos e contacta-os. É assim, que os dois irmãos dela aterram no aeroporto de Creta e a visitam durante uns dias…
As coisas não correm, porém, de feição: histórias antigas voltam a subir à superfície e, sobretudo, a irmã esfria bastante a relação em relação às expectativas iniciais. É que Sayomé tivera uma infância muito diferente da dos irmãos, já que começara por ser educada como uma pequena princesa pelo avô, que não tolerara a negligência do filho e da nora ao deixarem a bebé cair numa fogueira. Sorte diferente tinham conhecido os irmãos nascidos depois dela e sujeitos aos rigores do trabalho infantil.
Depois, mais tarde, quando ocorrera o divórcio dos progenitores, Sayomé ficara em Tóquio com o pai, enquanto a irmã seguia com a mãe para Osaka.
Mas esses equívocos com origem em tão distante passado, não desmotivam Sayomé de regressar ao arquipélago asiático até por tomar conhecimento da iminente morte da mãe.
Vemo-la assim a voar com o filho mais novo para Tóquio visitando sucessivamente o irmão, o pai, a mãe e a irmã.
O primeiro é afável e prossegue com o respectivo filho a tradição familiar se cuidar do corte de cabelo dos seus muitos clientes.
O velho Mori recebe-os bem, esquecido das afrontas passadas, até porque sente uma admiração evidente pelo arcaboiço do neto.
À mãe, Sayomé quase mal vê: é chegar, constatar o seu estado terminal e estar presente no seu derradeiro sopro. Ainda assim cabe-lhe cumprir um estranho ritual: levar o cadáver ao colo entre o hospital e a casa da aldeia natal aonde se cumprirão as exéquias fúnebres.
Finalmente, com a irmã, todos os ressentimentos são vencidos, partilhando ambas dois rituais incontornáveis: a visita ao túmulo do avô e uma noite no bar de karaoke.
Quando regressa a casa, Sayomé está pacificada com os seus sentimentos de pertença simultânea, quer à ilha mediterrânica, quer ao seu país de origem.

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