Em 2001 nada pareceria beliscar o patriotismo de Valerie Wilson, agente da CIA a actuar infiltrada em diversos cenários de operações relacionados com a luta terrorista. A sua transferência para a área das armas de destruição maciça do regime de Saddam Hussein até configurava uma merecida promoção.
Mas, em Fevereiro de 2002, o marido dela, Joe Wilson, antigo embaixador em África na época da Administração Clinton, é convidado pelo Departamento de Estado a dirigir-se ao Niger para confirmar se o regime iraquiano estava a tentar aí comprar urânio conforme era afirmado por outras fontes. Mas a realidade com que ele se depara não lhe deixa dúvidas: nem as minas nigerinas produziam as 500 toneladas em causa, como nada se comprovava quanto a esse eventual negócio.
Desconhecedora do que Joe ia descobrindo, Valerie está ocupada com a identificação dos cientistas iraquianos com formação bastante para serem utilizados no tal programa nuclear de Bagdad, ao mesmo tempo que se desconcertava com declarações taxativas de Condoleeza Rice dando como certos que uns tubos de alumínio já afastados por Fort Langley como utilizáveis naquele objectivo, estavam a produzir urânio enriquecido a partir de centrifugadoras escondidas em parte incerta do país.
Quando George Bush avança para a guerra, a generalidade dos quadros pertencentes à CIA e ao Departamento de Estado estão convictos de tratar-se de uma decisão baseada em mentiras facilmente desmascaráveis. E, uma delas - a do suposto negócio em África, é prontamente desmentido por Joe Wilson num artigo publicado no New York Times.
É o que basta para que um colunista ligado à Casa Branca denuncie Valerie como espia da CIA, tornando-a num alvo fácil para todos quantos a julgavam mera funcionária de uma empresa de produtos químicos e a descobriam agora a uma nova luz. Mas, pior ainda, todos os cientistas iraquianos com quem, Valerie se comprometera a garantir-lhes o exílio nos EUA, são agora abandonados à sua sorte numa Bagdad em ruínas ou mesmo abatidos pela própria CIA para não venderem os seus conhecimentos a inimigos dos EUA.
O casal Wilson não tardará a passar por maus momentos, ostracizados por todos à sua volta e sem encontrar formas de defesa eficazes contra todos os ataques contra eles emitidos quer da Casa Branca directamente, quer através da tenebrosa Fox News.
Daí a crise conjugal, que leva Val de regresso a casa dos pais. Mas é o progenitor dela, já a contas com o Alzheimer, mas ainda lúcido bastante para a incentivar a não esquecer tudo quanto lhe tinham feito, que a leva de volta para lutar com Joe a favor do desmascaramento da mentira da Administração Bush. Nomeadamente mediante a sua comparência perante uma Comissão de Inquérito do Congresso...
O filme de Doug Liman tem várias virtudes, uma delas a de ilustrar com bastante convicção o crime hediondo de manipulação das informações para que Bush ganhasse fundamento para a sua ilegítima guerra contra Saddam Hussein. Mas impressiona, igualmente, a rapidez com que o cinema norte-americano traduz em filme os episódios históricos mais recentes sem temer as limitações à falta de distanciamento perante a sua interpretação.
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