quinta-feira, dezembro 15, 2011

Filme: 007 CONTRA GOLDFINGER de Guy Hamilton (1964)

Descubro os clássicos da série 007 com várias décadas de atraso. Já sem os preconceitos de quem só neles via o maniqueísmo típico da Guerra Fria, ademais posicionado do lado contrário ao então por mim defendido, mas também com o distanciamento de quem se posiciona no papel do arqueólogo capaz de olhar para um passado distante com a intenção de encontrar as chaves para a evolução dos acontecimentos decorridos desde então.
Que o mundo de 007 é anacrónico não é novidade: até antes da queda do Muro de Berlim os argumentistas já tinham o cuidado de escamotear o inimigo soviético ou chinês sob a marca de uma entidade malévola dedicada ao crime internacional. Mas seríamos ingénuos se aceitássemos a inocuidade desse eufemismo: nos anos 50 muitos dos filmes de ficção científica produzidos em Hollywood, quando grassava a caça às bruxas, mostravam os ameaçadores extraterrestres como substitutos catárticos do medo dos russos.
Mas o propósito dos produtores, para além de passarem mensagens ideológicas bastante óbvias, era o de ganharem dinheiro, tornando estes filmes em mega sucessos de bilheteira. Para isso reinventavam a forma de conceber um cinema de entretenimento em que existia um personagem com quem fosse fácil a identificação,  capaz de suscitar interesse nas plateias masculinas pelas suas características de garanhão sempre pronto a horizontalizar-se com as bond girls de serviço, e nas femininas pela sofisticação dos ambientes por onde ia vagueando.
«Goldfinger» é um dos filmes mais conhecidos dos que integraram a série e a canção do genérico contribuiu bastante para tal, porquanto a história é perfeitamente convencional: Bond é levado várias vezes até ao limite da sobrevivência, mas capaz de virar as circunstâncias a seu favor, matando os mauzões de serviço e operando a redenção da vilã, que lhes servia de cúmplice.
Nada de particularmente inovador, mas que servia para, por exemplo no Portugal salazarista de então, distrair os mais incautos das diatribes quotidianas dos esbirros da ditadura...


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