Há quem o considere o melhor filme do ano o que é, obviamente, um exagero. Mas que se trata de um grande filme, não tenho dúvidas.
Basta para tal um intrincado labirinto em que se mistura um caso criminal, um livro a ele alusivo, um argumento para cinema e a sua transcrição para película. Esbatendo-se assim as fronteiras entre a realidade e a ficção, entre as personagens verdadeiras e os actores que as representam, com muita cinefilia à mistura até se chegar ao clímax final traduzido numa tragédia previsível.
A fabulosa actriz Laurel Graham a quem a câmara apaixonada do realizador Mitchell Haven se colava como se ela tivesse de figurar no primeiro plano de todas as cenas, era afinal a verdadeira Velma, que supostamente se suicidara anos atrás com o amante, um político venal responsável por uma fraude de cem milhões de dólares. Acabando por morrer numa cena que de tão estúpida só ganha reconhecida credibilidade.
Quanto ao realizador ele lembra Ícaro, já que de tanto se aproximar do seu Sol, acaba com as asas incineradas.
Em vez de uma intriga primária como a que os estúdios de Hollywood nos habituaram tratando-nos como adolescentes mais preocupados com as pipocas do que com as imagens no écrã, Monte Hellman forja um verdadeiro jogo de quem é quem, que coloca à prova a sagacidade do espectador. Que arrisca nada perceber se não acompanhar atentamente tudo quanto ali se passa.
Pode-se considerar, que nada de essencialmente novo se aprende com o filme - os temas da mulher fatal e das fraudes quase perfeitas já fundamentaram milhentos títulos cinematográficos - mas deve reconhecer-se a diferença de tratamento do tema por um Monte Hellman tão parco em obras e por isso capaz de com cada um delas criar um verdadeiro acontecimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário