sábado, dezembro 10, 2011

Filme: REGRESSO À NORMANDIA de Nicolas Philibert (2006)

Trinta anos depois de René Allio ter ido para a Normandia rodar o seu filme «Pierre Rivière», no qual colaborara como primeiro assistente, Nicolas Philibert volta aos mesmos locais para reencontrar as pessoas então contratadas para serem actores de cinema durante três meses das suas vidas.
Quando aí estivera, Philibert tinha 24 anos e sentia tanto fascínio quanto Allio pela história desse jovem meio alucinado que, cem anos atrás, matara a mãe e dois irmãos, porque Deus assim lho ordenara, prometendo-lhe protecção. 
Depois, encerrado na prisão, escrevera um texto de oitenta páginas para explicar as razões do seu acto, merecendo por isso mesmo a análise posterior do filósofo Michel Foucault
Com um orçamento muito limitado, tanto mais que o seu filme precedente (Rude Journée Pour la Reine») fora um tremendo fracasso comercial, mesmo contando com o protagonismo de Simone Signoret, Allio decide recorrer exclusivamente a actores amadores.
A sua contratação, bem como a busca de vestuário e alfaias típicas da época em causa, fora uma das tarefas encomendadas a Philibert.
Para todos  quantos aceitaram o desafio de Allio, o cinema não se tornou modo de vida. Nem sequer para o jovem Claude Hébert, que desempenhava o papel de Pierre Rivière. Apesar de ainda surgir nalguns filmes da nouvelle vague ele acabaria por responder a um apelo místico e a dedicar-se a um percurso religioso.
Quando o reencontramos, quase no final do documentário, ele é um padre com vastos anos passados no Québec e que, então, reside no Haiti a socorrer as populações mais atingidas pelo terrível terramoto aí ocorrido.
Outros dos participantes são agricultores (e vê-se a cena terrível do abate de um porco, depois de assistirmos nas cenas iniciais ao nascimento de vários leitões) e uma delas trabalha numa instituição com deficientes mentais, que remetem visualmente para o universo demencial de Rivière.
Ademais, embora nada não tendo directamente a ver com a experiência de 1975, muitos deles são militantes activos contra a existência de dejectos nucleares nas redondezas das suas aldeias, organizando manifestações bastante participadas.
O filme é, pois, feito de extractos do que Allio rodou, de entrevistas com os actores de então e com o seu dia-a-dia num presente donde essas pretéritas memórias são amiúde resgatadas para as conversas.
Quanto a Pierre Rivière, apesar de condenado à morte, o rei comutara-lhe a sentença em prisão perpétua. No entanto, um dia, aproveitando o isolamento em que era deixado, ele enforcou-se na sua cela.
Para a história ficaria, porém, como tendo sido o réu do primeiro caso judicial francês em que o tribunal recorreu ao parecer de diversos psiquiatras...

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